ConteúdosCultura SistêmicaRecentesSociedadeTecnologia

RIP Redes Sociais

A gente não é mais quem a gente segue ou o que a gente escreve.

Charlley Luz

São Paulo, 29/07 de 2022.

3 minutos.

Agora somos quem a inteligência artificial acredita que queremos. Mídia social é ‘conteúdo’ (em forma de texto, fotos, vídeos, memes, áudio, etc) que são distribuídos por meio de pessoas conectadas em rede. Essa dinâmica colocava uma enorme quantidade de poder nas mãos de criadores de conteúdo (a.k.a Influencers) porque significava que eles podiam transmitir conteúdo para o público que construíram.

Na prática existia algum nível de distribuição que era garantido para criadores com base na rede social de amigos ou seguidores desse criador de conteúdo e esse era um poder nas mãos dessas pessoas criadoras, pois significa que elas construíram públicos para os quais podiam transmitir conteúdo.

E este era o poder, para o bem ou para o mal, nas mídias sociais, cujo os criadores têm a definição de programação. Como resultado, a mídia social é a prática de uma competição baseada em popularidade, não na qualidade do conteúdo. Isso favorecia os criadores com maior número de seguidores, pois quanto maior o número de seguidores, maior o potencial de distribuição e influência (e quanto recebem por isso).

Mas isso acabou. Acostume-se com o novo.

(Key words): Vazio – Consumo – direção alguma

A mídia de recomendação é o novo padrão para distribuição de conteúdo nas maiores “mídias sociais” (serão mídias de distribuição agora). A Meta (dona do Facebook) anunciou recentemente que o feed de notícias da rede estaria mudando para um modelo algorítmico baseado em recomendações de distribuição de conteúdo. Foi um anúncio que marca um novo período da comunicação digital, afinal é uma grande plataforma que assumiu essa mudança. Outras grandes plataformas, como o Instagram (também da Meta), caminham, sem alarde (mas com reações) nessa direção já há algum tempo.

O Facebook ainda é a maior rede social do mundo, portanto essa mudança sinaliza o fim da mídia social como a conhecemos na última década e meia (veja, em inglês, como foi o anúncio das mudanças)

São mudanças rumo a feeds algorítmicos em vez de feeds de amigos. Plataformas como o YouTube e o TikTok já fazem isso, colocam muito menos ênfase em amigos e relações sociais a favor de experiências algorítmicas “inteligentes”, com cálculos cuidadosos e conteúdo certo para as pessoas certas no momento exato (ou o que o cálculo algorítmico considera como sendo a necessidade do usuário). Esta é a mídia de recomendação, e é o novo padrão para distribuição de conteúdo na internet.

RIP Redes Sociais
Ou desaparecem ou ganham novos contornos cada vez mais centralizados (Img Web)

[N.E.: qual é a capacidade que as corporações integradas de comunicação – “mídia social” como conteúdo – têm de ditar o que as pessoas podem/devem como ser? É possível (re)definir os conceito de rebanho-fazendeiro?]

Nada será como antes

As plataformas de mídia social cresceram e mudaram a maneira como todos consumimos conteúdo, marcaram toda uma geração, promoveram a educação digital de milhares de pessoas, mas elas também causaram estragos nas empresas de conteúdo tradicional, na Internet e, mais amplamente, no nosso mundo.

A distribuição integrada de conteúdo para redes sociais significa que as pessoas podem compartilhar e espalhar conteúdo mentiroso e tendencioso com a mesma facilidade com que espalham conteúdo de boa índole. Se alguém mal intencionado quiser compartilhar conteúdo problemático nas mídias sociais, o conteúdo pode se espalhar rapidamente por causa da distribuição garantida para a rede de amigos dessa pessoa.

O conteúdo é distribuído, assim, principalmente para grupos de pessoas conectadas, e isso abre a possibilidade para a difusão de Fake News, por exemplo. Só porque as pessoas podem facilmente distribuir conteúdo para seus amigos ou amigos de amigos não significa que esse conteúdo será interessante ou relevante para o consumidor. E claro, isso tudo gera custos altíssimos para as plataformas, com equipes gigantes de moderação compostas por milhares de pessoas.

Tesarac*

Com o Facebook mudando formalmente para a mídia de recomendação, parece que uma nova era da internet está chegando, e é difícil imaginar o que pode vir a seguir. Se a mídia de recomendação é sobre plataformas que têm mais controle sobre a experiência do consumidor, não é difícil imaginar que as plataformas acabarão buscando ainda mais eficiência criando seu próprio conteúdo. Será a época da mídia sintética? Com conteúdo criado pelos robôs?

Mas tudo é relativo. A Web 1.0 funciona junto com a Web 2.0 que agora encerra seu reinado. Estamos no Tesarac das redes sociais. O que vem pela frente? Não sei, mas o que você acha? As redes sociais acabaram de vez? O que vem é a automatização da experiência de consumo de conteúdo digital?

(* Tesarac é um termo criado pelo autor norte-americano Shel Silverstein para descrever períodos da história onde ocorrem mudanças sociais e culturais significativas, em que a situação e a sociedade se tornam mais confusas e caóticas até conseguirem se reorganizar.)

Charlley Luz

[N.E.: Shel Silverstein foi um destes poetas menores norte-americanos que surgem nas zonas das alterações sazonais, naquele limbo climático entre o muito quente e o muito frio que representam os gaps entre Primavera e Outono (renascimento e ocaso.) Criou o ‘conceito’ tesarac ao sentir a dor/confusão do vazio imediato às perdas da sua família, tempos depois de ter voltado da guerra da Coreia dos anos de 1950. O acúmulo de atos e gestos violentos, possivelmente abrandados pelo companheirismo nas tropas militares (a guerra, o militarismo produz excrecências em diversos níveis – como os irmãos de armas – que se identificam pelos horrores experimentados durante os conflitos humanos) e uma formação humanista produz emoções e misturas de sentimentos intensos, suficientes para transtornar e modificar corações e mentes. Para estes momentos de ruptura pessoal ou institucional (global?) outras denominações poéticas para simbolizar a intensidade dos acontecimentos da vida já nos foram apresentados: Apocalipse, Armagedon (um monte simbólico), Ragnarock estão entre os mais conhecidos, mas desde os filósofos pré-socráticos e entre o pensamento hindu (ainda mais antigo) esta ideia ganha substância interpretativa. O uso desta ideias é também recorrente no marketing como ferreamente de impulsionamento de vendas, lá onde o mundo são só negócios.

É interessante notar que o nome tesarac, cuja etimologia é difusa, se aproxima do dado a uma ferramenta de destruição em massa avaliada pelo ‘deus’ Locki, irmão de Thor da mitologia nórdica, e introduzida no cinema em 2012/2014 pelo filme do seriado de ficção Avengers, da Marvel Comics. ]

Compartilhar

Redação

ÆscolaLegal é um esforço coletivo de profissionais interessados em resgatar princípios básicos da Educação e traduzir informações sobre o universo multi e transdisciplinar que a envolve, com foco crescente em Educação 4.0 e além, Tecnologia/Inovação, Sustentabilidade, Ciências e Cultura Sistêmica. Publisher: Volmer Silva do Rêgo - MTb16640-85 SP - ABI 2264/SP

One thought on “RIP Redes Sociais

  • Ahmad Ibn Sanz

    O mais interessante e curioso, e que poucos se dão conta, é a tendência empresarial do marketing que transforma pessoas (criadores de conteúdo) em empregados do robôs! Já acontece muito

Fechado para comentários.