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Tabagismo no Brasil

Levantamento mostra que brasileiros não estão usando o cigarro eletrônico para reduzir o convencional, e sim por “estar na moda” ou “por curiosidade“.


Redação

São Paulo, 30/08/2023

4,6 Minutos.

Na contramão do argumento de que o cigarro eletrônico seria utilizado como redução de danos, apenas 3% afirmam que optaram pelo dispositivo para parar de fumar o cigarro convencional.
A maioria dos entrevistados que usam ou já experimentaram o cigarro eletrônico o fizeram por curiosidade (20,5%) ou porque está na moda (11,6%).

Inquérito Covitel 2023 foi desenvolvido pela Vital Strategies, organização global de saúde pública, e pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), a partir da articulação e financiamento da Umane

Apesar de ter venda e propaganda proibidas no Brasil, o cigarro eletrônico vem estimulando a curiosidade de novos usuários, principalmente os mais jovens. É o que mostra o Covitel 2023.

Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em Tempos de Pandemia, foi desenvolvido pela Vital Strategies, organização global de saúde pública. Participaram a Universidade Federal de Pelotas (UFPel), a partir da articulação e financiamento da Umane. De acordo com o levantamento, 20,5% das pessoas que usam ou já experimentaram o cigarro eletrônico o fizeram por curiosidade. Outros 11,6% dizem que já fumaram ou fumam porque está na moda.

O argumento recorrente a favor dos cigarros eletrônicos é a redução de danos. Diz-se seguido da afirmação de sua principal função]: substituir os cigarros convencionais no caso de adultos fumantes. Entretanto, o Covitel traz dados inéditos sobre as motivações para usar cigarro eletrônico. Há um cenário diferente: 3% optaram pelo dispositivo eletrônico para parar de fumar o cigarro convencional. Enquanto 1% acredita que o cigarro convencional faz menos mal do que o cigarro industrializado.

Tabagismo no Brasil Entre Jovens

Quando falamos de dispositivos eletrônicos de fumar, o público jovem é o mais atraído pela novidade. A faixa etária que mais tem contato com o cigarro eletrônico é a dos jovens adultos. Dos brasileiros com idades entre 18 e 24 anos: 17,3% já o usaram pelo menos uma vez. Porém, não usa mais. Contudo, 6,1% usam, mas não diariamente, e 0,5% usam diariamente.

Para efeito de comparação, quando se fala do uso de cigarro eletrônico em relação à população  brasileira adulta geral, 5,7% já usaram alguma vez na vida. Porém, não usam mais; 2% usam, mas não diariamente, e 0,3% usam diariamente.

Tabagismo no Brasil
Tabagismo no Brasil – O vício, responsável por diversos problemas de saúde, pode levar à morte. (Img Web)

Da parcela da população brasileira que já usou ou usa cigarro eletrônico, 37,7% experimentaram o dispositivo entre os 18 a 24 anos de idade.

Alarmante é o fato de que 19,2% das pessoas, que já os usaram pelo menos uma vez na vida, o fizeram com 17 anos ou menos.

Ou seja, quase 60% das pessoas que já usaram ou usam o dispositivo tiveram o primeiro contato antes dos 24 anos.

Já 36,1% experimentaram na faixa entre 25 e 34 e os outros 7% fumaram pela primeira vez depois dos 35 anos.

“Se levarmos em consideração que o cigarro eletrônico foi lançado em 2003 e não chegou imediatamente ao Brasil, a tendência de experimentação na adolescência poderia ser ainda maior do que os 19,2%. Isto por conta de grande parte da população usuária já ser mais velha quando o produto chegou. Ele chegou ilegalmente no país o que evitou o risco de serem fisgados ainda mais jovens”, explica Fernando C. Wehrmeister, professor da UFPel.

Fiscalização e Comércio ilegal

O Covitel também buscou traçar um raio x do comércio dos cigarros eletrônicos no país.  Identificar onde os usuários tem maior acesso ao produto e driblando a legislação que proíbe a venda dos dispositivos no Brasil. Considerando o momento em que o entrevistado usou o cigarro eletrônico pela última vez, 37,5% disseram que compraram seu próprio dispositivo, 53,3% em lojas físicas e 29,9% pela Internet.

Outra estratégia da indústria que tem driblado a legislação brasileira é achar um caminho para fazer marketing dos produtos online.  Apesar das propagandas e anúncios desse tipo de dispositivo serem proibidas no país, 33,3% dos brasileiros já teriam sido impactados pela internet ou nas redes sociais.

Luciana Vasconcelos Sardinha, da Vital Strategies, chama atenção para a falta de fiscalização no universo online. Sobretudo nas redes sociais, onde não é difícil achar perfis focados na venda desse produto. Muitos deles fazendo comentários com anúncios em posts de festas ou influenciadores digitais estimulando o uso.

“É preciso que o Brasil invista em sistemas que rastreiem o marketing online de tabaco. Há experiências internacionais exitosas nesse sentido. O Movimento de Denúncia e Fiscalização do Tabaco (Term, na sigla em inglês) atua em países como Índia, Indonésia e México. As evidências geradas por ele são compartilhadas regularmente com ministérios da saúde. E os oficiais de controle do tabagismo, acadêmicos e jornalistas, contribuem com a fiscalização”, exemplifica.

Tabagismo no Brasil 

Para além do cigarro eletrônico, o Covitel também levantou outras informações sobre o tabagismo no Brasil. O inquérito identificou que 11,8% da população brasileira é tabagista. Ou seja,  o que inclui usuários de cigarros convencionais, de palha, de papel, charuto e cachimbo.

Quando comparado com o Covitel 2022, não houve queda na porcentagem de fumantes na população. Estes dados mostram que a prevalência tem se mantido estável, diferente de um histórico persistente de queda dos últimos anos.

“O Brasil é um país referência em políticas de controle de tabaco e muitos avanços foram registrados nas últimas décadas. Entretanto, os esforços não podem parar ou teremos retrocessos. Hoje temos um problema que é o fato de o cigarro convencional estar muito barato. É o segundo mais barato da região das Américas, uma vez que não há reajuste real de preço desde 2016”, explica Luciana Sardinha, Gerente Sênior de DCNT da Vital Strategies.

Estratégias, como a inclusão do imposto seletivo (que incide sobre produtos que fazem mal a saúde, como o tabaco) na nova Reforma Tributária, são fundamentais. “O imposto aumenta o preço e esse aumento é uma estratégia comprovada de desincentivo ao consumo. O preço do cigarro precisa voltar a aumentar e essa arrecadação deve ser destinada a ações de prevenção de uso e cessação do fumo. Além disso, pode custear parte dos custos de tratamento das doenças relacionadas ao tabagismo”.

COVITEL 2023 –  traz um retrato da magnitude das prevalências e do impacto dos principais fatores de risco para doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) na população adulta brasileira. Entre outras, as doenças cardiovasculares, câncer, diabetes, doenças respiratórias crônicas e condições mentais e neurológicas. Essas condições são impactadas por uma combinação de fatores, como tabagismo, alimentação inadequada, consumo abusivo de álcool, sedentarismo e poluição do ar.

Esse grupo de doenças causa 41 milhões de mortes por ano, o equivalente a 74% de todas as mortes globais, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. Por ter sua primeira edição durante a pandemia em 2022, a pesquisa ainda levantou dados específicos sobre Covid-19, que também foram incluídos na edição de 2023.

VITAL STRATEGIES Organização global de saúde que acredita que todas as pessoas devem ser protegidas por políticas e sistemas de saúde forte e equitativos.

UFPEL Universidade Federal de Pelotas (UFPel) é uma instituição brasileira de ensino superior cujos campi se localizam nas cidades de Pelotas e Capão do Leão, no Rio Grande do Sul. Oferece atualmente 99 cursos de graduação, 39 cursos de mestrado e 16 de doutorado em Ciências Exatas e da Terra. Ciências Biológicas, Engenharias, Ciências Agrárias, Ciências da Saúde, Ciências Sociais Aplicadas, Ciências Humanas, Linguística, Letras e Artes.

 UMANE – Associação civil sem fins lucrativos dedicada a apoiar iniciativas de prevenção de doenças crônicas não transmissíveis e promoção à saúde, no âmbito da saúde pública

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Redação

ÆscolaLegal é um esforço coletivo de profissionais interessados em resgatar princípios básicos da Educação e traduzir informações sobre o universo multi e transdisciplinar que a envolve, com foco crescente em Educação 4.0 e além, Tecnologia/Inovação, Sustentabilidade, Ciências e Cultura Sistêmica. Publisher: Volmer Silva do Rêgo - MTb16640-85 SP - ABI 2264/SP