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Agro é Pop na Educação?

O agronegócio tem buscado ocupar espaços estratégicos na sociedade brasileira. Na política, não é novidade, já que tem assentado parlamentares, desde o período colonial. A atuação da bancada ruralista (Frente Parlamentar Agropecuária) não se restringe aos plenários nacionais, mas escoa pelos estaduais e municipais, variando de acordo com a força da região na economia rural. Outro campo em que estão adubando sua participação é na mídia brasileira, onde floresce o investimento do setor. 

Luiz André Ferreira

No entanto, como este mercado bem sabe, outro importante investimento é na semente. E estão investindo pesado numa nova safra visando colher bons frutos através de uma sociedade mais favorável ao segmento. Neste caso, fazendo uma analogia, é importante plantar uma visão positiva sobre o setor também em uma das bases da formação do cidadão.

Ou seja, o agro também quer ser pop na Educação. Não se referindo, no entanto, aos cursos técnicos para a formação de mão de obra ou desenvolvimento de tecnologia para atender a demanda de crescimento na produção em 20% até 2030, conforme projeção do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

A preocupação é muito mais conceitual do que operacional. Seguem simultâneos dois movimentos que atuam em campos diferenciados, mas com objetivos complementares: o agro quer estar presente no tracejo da educação brasileira.

Para isso, não poupa esforços em plantar o verde para colher maduro. Neste sentido, querem incluir uma agenda positiva em contraponto a uma imagem mais crítica que a Educação forma sobre este segmento.

Consideram injustos, ultrapassados e politizados alguns conceitos sobre o agronegócio aplicados na educação.

E pedem desde a revisão de cunho histórico como escravidão, dizimação de indígenas e coronelismo. Segue, ainda, com outros pontos sensíveis contemporâneos, como o uso de agrotóxicos, desmatamento, a exploração de mão de obra, a grilagem, o latifúndio, o proletariado, a concentração de renda, a violência rural, o êxodo rural, a reforma agrária…

Visando livrar-se desses rótulos, considerados inapropriados, atribuídos ao seu escopo de negócio, o agro se esforça para dissociá-los de sua imagem.

Fazenda de soja...a perder de vista
Agro trilionário em um país com quase 20 milhões de famintos. É pop? (Img Internet)

Uma dessas frentes é focada no estreitamento de relações com donos e diretores de escolas de forma a entronizarem seus conceitos positivos no processo educacional. A outro é mais visceral, tem por objetivo identificar pontos críticos e negativos nos livros, conteúdos didáticos e currículos.

Para tal, estão criando uma rede colaborativa para mapeamento do conteúdo didático. Ela é aplicada de forma a tentar alterá-lo a seu favor junto a editoras, ao Ministério e Secretarias de Educação e direção de escolas.

De olho no material escolar

Com o slogan “Plantando verdades e colhendo conhecimento“, o projeto colaborativo “De olho material escolar” já foi apelidado de Mães do Agro. Incentiva que os pais procurem conceitos considerado pejorativos ou inadequados associados ao agronegócio dentro do pacote que compõe o conteúdo didático.

E o que for encontrado pode ser documentado e enviado através de fotos e vídeos para que essas supostas inadequações encontradas sejam repassadas para pedirem correção.

De posse desse material, vão tentar as alterações junto a instituições de ensino, editoras e professores.

Justificam que o objetivo é a atualização com inserções de abordagens “reais”, em substituição a uma imagem negativa associada ao agronegócio. Segundo o movimento, essa revisão visa atualização histórica e científica no conteúdo ainda aplicado. Alegam que ainda se encontram vigente conteúdos contaminados por viés político e ultrapassados, além de sofrerem com doutrinações por professores militantes.

Esse quadro seria mais agravante nas disciplinas de humanas – como Geografia, História e Meio Ambiente, as mais reflexivas em relação ao tema. Mas para os críticos esse movimento não passa de uma forma intervenção, pressão, censura e manipulação dos fatos.

A iniciativa conta com o forte apoio político vindo da Bancada Ruralista para interceder em duas frentes. Uma delas, junto ao Ministério e Secretarias de Educação visando mudanças nas orientações curriculares. A outra para atingir diretamente o Programa Nacional do Livro e do Material Didático de forma a exigirem as revisões nos materiais produzidos por editoras que fornecem os livros didáticos comprados pelo Governo, para alunos de escolas públicas e bibliotecas ou inseridos nas bibliografias dos currículos.

A pop do agro
Agro pop – Esforço para trocar de sangue. A fome é pop! (Img Internet)

Todos por uma só voz

Lançado em 23 de fevereiro de 2021, o Movimento “Todos a uma só Voz” já nasceu dentro da realidade do ensino remoto por conta da pandemia. A prova disso foi a promoção do Webnar “O Agro para Estudantes” contando com presença e apoio de lideranças rurais e políticas na implantação de sua agenda positiva.

No entanto, sua raiz remota a 2001 com o movimento iniciado ´pela Associação Brasileira do Agronegócio em Ribeirão Preto através do Programa Educacional “Agronegócio na Escola” – iniciado em 86 municípios.

Segundo dados da ABAG entre 2001 e 2020 este programa já atendeu 255.952 alunos, 3.397 professores de 626 escolas espalhadas por 111 municípios.

São muitas ferramentas correlatas, como, palestras, distribuição de cartilhas e excursões de alunos e professores a fazendas e a agroindústrias. Também faz parte ações de sedução – premiações por concursos para professores, alunos e escolas –  de redação, projetos, desenhos e outras formas de produção criativa que cultivem o tema agro.

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Redação

ÆscolaLegal é um esforço coletivo de profissionais interessados em resgatar princípios básicos da Educação e traduzir informações sobre o universo multi e transdisciplinar que a envolve, com foco crescente em Educação 4.0 e além, Tecnologia/Inovação, Sustentabilidade, Ciências e Cultura Sistêmica. Publisher: Volmer Silva do Rêgo - MTb16640-85 SP - ABI 2264/SP