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Mobilidade Urbana e Transição Energética

Mobilidade Urbana e Transição Energética são prioritárias e necessárias para as adaptações energéticas e climáticas no planeta. Deverão impactar profundamente as relações humanas. Para o bem das sociedades e de todos os seres vivos, esperemos. Mas, toda mudança de paradigmas significam esforços. Assim, processos educacionais atualizados e bem dirigidos devem ser acionados imediatamente, a fim de evitar conflitos mais sérios no percurso futuro das gerações.

Arnaldo F. Cardoso

São Paulo, 04/01/2023.

3 Minutos

A chegada do inverno no hemisfério norte em meio a restrições no consumo de energia em função da guerra na Ucrânia ainda longe de seu fim, tem imposto de modo incontornável a toda a sociedade a compreensão da necessidade de mudança sistêmica das relações que envolvem geração e consumo de energia. Uma mudança sistêmica é dependente da confluência de fatores como a inovação científico-tecnológica, a concepção e implementação de políticas públicas orientadas para um claro objetivo, investimentos públicos e privados e, concomitantemente uma mudança cultural que de forma transversal alcance toda a sociedade, reavaliando criticamente seus modos de produção, distribuição e consumo.

A realização em novembro passado da COP27, conferência ambiental da ONU sediada em Sharm el-Sheikh – Egito, merece avaliação positiva, mesmo não tendo produzido resultados satisfatórios. De mais significativo, vale destacar os avanços para a implementação do fundo de US$100 bilhões anuais destinados à ajuda e financiamento de políticas climáticas em países em desenvolvimento, visando sobretudo a descarbonização de suas economias.

Acontecimento alvissareiro na COP27 foi a volta do Brasil às negociações multilaterais, com uma delegação do novo governo eleito reassumindo responsabilidades e disposição para a cooperação internacional. Abrigando em seu território a maior parte da floresta amazônica, 70% do maior reservatório de água do planeta, um inigualável acervo de biodiversidade e, sendo um dos maiores produtores agrícolas do mundo, o Brasil é um ator central em negociações globais sobre meio ambiente, cujas ações ou omissões geram impactos em escala global.

Mobilidade Urbana e Transição Energética
Em cidades limpas e bem organizadas, as bicicletas têm , cada vez mais, papel de importância crucial. (Img. Web)

Mobilidade urbana

Estudos recentes da Comissão Europeia apontaram que o transporte em ruas e estradas é responsável por 20% de toda a emissão de CO2 na região.

Como resposta ao quadro identificado, tem tido continuidade nos países-membros do bloco europeu políticas como a de subsídios governamentais na compra de carros elétricos ou híbridos plugáveis e, sobretudo, decisões também conjuntas como a que estabelece o ano de 2035 para que a produção e comércio de carros novos nos 27 países-membros sejam só elétricos.

Reflexos disto podem ser vistos por habitantes e visitantes de grandes cidades, como na Itália, onde em 2020 circulavam 67 carros por 100 habitantes – número superior ao da França (57), Alemanha e Reino Unido (54) e Espanha (53) – e que a cada dia é maior a presença de minicarros, scooters e bicicletas elétricas nas ruas, cruzamentos e estacionamentos, denotando uma compreensão e adesão ao projeto de descarbonização, quer seja por razões pragmáticas-econômicas, ecológicas e/ou por valores eticamente elevados.

É verdade que essa realidade se faz mais notável em grandes cidades, como no caso italiano Roma, Bolonha e Milão. Para a expansão da escala dessa importante mudança no campo da mobilidade urbana, serão necessários investimentos constantes e orientados na mesma direção.

A indústria automobilística mundial

Para a indústria automobilística mundial estudos já demonstraram que as três melhores opções são carros elétricos a bateria, eletropilhas a hidrogênio (fuel cell) e ainda motores a combustão interna abastecidos exclusivamente com hidrogênio que só emitem vapor d’água pelo escapamento.

Mobilidade Urbana e Transição Energética
Para ir ao trabalho, p.ex., e evitar a falta de espaço de estacionamento urbano, opções como pequenos carros elétricos e “scooters”. (Img Web)

A manutenção do círculo virtuoso (inovação, política e investimento) para a transição energética dependerá, por exemplo, de elevados investimentos públicos e privados na expansão da rede de postos de recarga ultrarrápida (150 kW). Hoje, em toda a União Europeia há pouco mais de 100 mil postos de recarga e estima-se a necessidade desse número chegar ao menos em 350 mil.

Perspectivas para a América Latina

Para a América Latina, estudos realizados em 2020 pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) apontaram que apenas 2% das aquisições foram de carros elétricos e a estimava para 2035 é de chegar a 32%. Na região, com destaque ao Brasil, ainda são fortes os incentivos para as cadeias produtivas do álcool a partir da cana-de-açúcar e do gás natural, esse último especialmente na Argentina e Bolívia, ou seja, energia para motores a combustão. Aqui: Anuário 2022

O Brasil desfruta da boa condição de ter cerca de 80% de sua geração de energia elétrica sem emissão de CO2. A garantia de oferta de eletricidade para atender a expansão da frota de carros elétricos pode ser sustentada por ampliação nos investimentos em geração de energia eólica – fonte de crescentes investimentos estrangeiros.

Desfavoravelmente, pesam os altos preços dos automóveis elétricos ainda não produzidos em plantas industriais instaladas em países da região. Os importados gozam no Brasil de isenção de 35% do Imposto de Importação.

Políticas transversais – readequações urgentes do mercado. 

Para uma transição energética no Brasil, o fator cultural também deverá ser objeto de uma campanha educativa de desconstrução do ideário que ao longo do século 20 associou o carro à status e poder, um poder de natureza masculina, ligada à imagem de potência. Enquanto em várias cidades europeias cresce a frota de minicarros, no Brasil a exemplo do que ocorre nos Estados Unidos, os SUVs – com cronogramas de lançamentos de várias marcas já divulgados até 2024 – ainda aumentam sua presença nos congestionamentos e imperam no imaginário desejante dos cidadãos moldados por imagens já obsoletas de status e poder.

A insuficiente e deficiente cobertura do transporte público nas principais metrópoles latino-americanas mantém-se como fator de apelo ao uso de veículos particulares para o deslocamento diário de milhões de cidadãos.

É com objetivos claramente comprometidos com o meio ambiente e com a qualidade de vida no planeta, orientando políticas públicas inteligentes e transversais, bem como a adesão do empresariado e da população como um todo que se darão as mudanças necessárias para um desenvolvimento que beneficie a todos e se sustente como política nacional de longo prazo.

Arnaldo F. Cardoso – Sociólogo, Cientista político (PUC-SP), Pesquisador, Escritor e Professor universitário.

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Redação

ÆscolaLegal é um esforço coletivo de profissionais interessados em resgatar princípios básicos da Educação e traduzir informações sobre o universo multi e transdisciplinar que a envolve, com foco crescente em Educação 4.0 e além, Tecnologia/Inovação, Sustentabilidade, Ciências e Cultura Sistêmica. Publisher: Volmer Silva do Rêgo - MTb16640-85 SP - ABI 2264/SP