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100 Anos de Sigilo

Um país que não preserva sua memória não aprende com seus erros. As culturas autoritárias tendem a esconder a sua história. Os povos que obtiveram êxito na conquista das liberdades e do bem-estar social preservam seus valores.

Ricardo Guedes

Belo Horizonte, 22/o03/2022.

1 Minuto

No ano passado, o atual presidente brasileiro, baseado na Lei de Acesso à Informação, que permite manter o sigilo de informações “consideradas imprescindíveis à segurança da sociedade ou do Estado”, impôs sigilo sobre a agenda de seus filhos no acesso ao Palácio do Planalto, assim como o Exército Brasileiro recorrentemente impôs sigilo sobre a participação do General Pazuello em ato político no Rio de Janeiro, relativizada pela CGU em decisão ao final do ano.

Os museus são exemplos que retratam o interesse das elites em preservar ou não a memória nacional.

A Guerra Civil Americana e a Guerra do Paraguai foram eventos vultuosos na história de nossos continentes. Na Guerra Civil Americana, de 1861 a 1865 morreram cerca de 650 mil pessoas em ação, com parcela significativa dos jovens americanos. Na Guerra do Paraguai, de 1865 a 1870 morreram cerca de 440 mil pessoas em ação, 100 mil brasileiros, 30 mil argentinos, 10 mil uruguaios, e 300 mil paraguaios, com a redução do Paraguai para cerca de metade de sua população, exemplo de genocídio.

Péssimos exemplos brasileiros

Nos Estados Unidos, a memória da Guerra Civil é preservada através de cerca de 25 museus pelo país, na divulgação e afirmação dos valores americanos na busca da liberdade e da igualdade para seus cidadãos. No Brasil, não existe um só museu exclusivamente dedicado à Guerra do Paraguai, na vitória do Estado Brasileiro contra a tentativa do Paraguai de obter acesso territorial ao mar.

No Brasil, nas últimas décadas, presenciamos o incêndio em pelo menos 10 museus e centros culturais, símbolo do descaso, ou melhor, da falta de interesse de preservação de nossa memória, como o Museu de Arte Moderna em 1978, Teatro Cultura Artística em 2008, Instituto Butantan em 2010, Memorial da América Latina em 2013, Museu de Ciências Naturais da PUC de Minas Gerais em 2013, Centro Cultural Liceu de Artes e Ofícios em 2014, Museu da Língua Portuguesa em 2015, Cinemateca Brasileira em 2016, Museu Nacional em 2018, Cinemateca de São Paulo em 2021.

O MASP e os recentes Museu da Língua Portuguesa e Museu do Futebol em São Paulo são exemplos, hoje, de preservação da memória e de valores.

[N.E.: pequenos exemplos, pois a História não tem apenas uma ou duas vertentes].

Um país que esconde o seu passado não aprende com seus erros. É através da história que os erros são avaliados, na reafirmação de seus valores e acertos, para que os erros não sejam repetidos.

100 anos de sigilo, ou, nas palavras de Gabriel Garcia Márquez, “100 anos de solidão”.

Ricardo Guedes – Ph.D. pela Universidade de Chicago – CEO da Sensus

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Redação

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