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Não é Crise – é Projeto

Reformas que prejudicam o serviço público afetam mais mulheres e meninas negras, mostra estudo e a   pesquisa sobre as políticas de austeridade nos últimos cinco anos analisa, de forma estruturante, recortes de raça e gênero e impactos na educação.

As reformas que reduzem a capacidade do Estado brasileiro de atender sua população prejudicam de forma acentuada mulheres e meninas negras, aponta estudo da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.

Redação

São Paulo, 28/10 de 2021.

2 Minutos

 

Não é crise, é projeto: reformas que prejudicam o serviço público afetam mais mulheres e meninas negras, mostra estudo

A análise “Não é uma crise, é um projeto: os efeitos das reformas do estado entre 2016 e 2021 na educação – Subsídios para uma análise a partir de raça e gênero” mapeia parte das medidas de austeridade implementadas e em discussão no país nos últimos 5 anos, colocando luz na lógica de sufocamento das políticas públicas.

Neste Caderno 2, a pesquisa mostra que o desfinanciamento de políticas públicas e proteção social gerados por essas medidas agravam desigualdades educacionais. Grupos populacionais historicamente vulnerabilizados, em especial as mulheres e meninas negras, são os mais atingidos.

lançamento acontece na segunda-feira (25), às 18h30, no YouTube da Campanha Nacional pelo Direito à Educação. O estudo ficará disponível no início do evento virtual.

O estudo, apoiado pela ActionAid, faz parte da pesquisa de mesmo nome lançada no início de outubro, com lançamentos nacional internacional . As organizações colaboradoras técnicas são: Coalizão Direitos Valem Mais, Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, Geledés – Instituto da Mulher Negra e Plataforma DHESCA Brasil.

O documento é a colaboração brasileira a uma pesquisa global coordenada pela ActionAid sobre como políticas de austeridade estão precarizando o trabalho dos servidores públicos, em especial da educação, em diversos países onde a organização atua. Neste esforço, os países mapeiam os impactos que as reformas de austeridade fiscal provocadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) causaram aos direitos sociais em seus contextos.

O estudo demonstrou impactos severos das reformas de Estado para a educação como um todo. Mas, mais importante que isso, mostrou como há um efeito perverso e discriminatório em relação a gênero, raça e classe social”, afirma Andressa Pellanda, coordenadora geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.

“Quando as metas fundamentais de educação não são atingidas, o impacto é sentido de forma mais aguda pelas mulheres e meninas, principalmente negras, que são mais propensas a serem excluídas do acesso aos serviços básicos, perdem oportunidades de trabalho e suportam uma parte desproporcional do trabalho de cuidado que aumenta quando os serviços públicos falham. Aprofundar a leitura dos dados sobre educação com foco em raça e gênero é fundamental para avançarmos rumo à educação que queremos: universal, de qualidade e libertadora, que amplie as possibilidades de vida digna de todas as pessoas.”, diz Ana Paula Brandão, diretora Programática da ActionAid.

“Precisamos criar políticas e programas de ações afirmativas na educação voltados aos estudantes negros e às meninas negras, com metas de equalização para a redução das desigualdades educacionais, bem como formação de profissionais da educação em raça e gênero”, afirma Suelaine Carneirocoordenadora de Educação e Pesquisa do Geledés – Instituto da Mulher Negra.

PRINCIPAIS RISCOS DA AUSTERIDADE CONSIDERANDO RAÇA E GÊNERO

– A remuneração das mulheres, tanto no serviço público como na iniciativa privada, ainda é inferior à dos homens. Além disso, os homens ocupam cargos de alto escalão e, portanto, mais bem remunerados. A precarização e a desproteção do trabalho, dessa forma, tendem a atingir, majoritariamente, as mulheres e, mais ainda, as mulheres negras.

– Por serem maioria, e considerando as históricas desigualdades salariais e de progressão na carreira, as trabalhadoras da educação enfrentam mais riscos em razão da crescente precarização do trabalho, em relação aos homens. A situação das trabalhadoras negras fica ainda mais fragilizada nesse processo.

– Medidas importantes como a Lei de Cotas, a ampliação do ensino superior e a EJA, que visam reparar a histórica exclusão educacional da população negra, podem sofrer impactos em razão do desfinanciamento e precarização.

– As desigualdades estruturais acentuadas pelos impactos da pandemia fazem com que a exclusão escolar seja um risco acentuado às e aos estudantes brasileiros, em especial para estudantes negras e negros, fazendo com que as desigualdades educacionais sejam ainda mais agudizadas.

– O não cumprimento do Plano Nacional de Educação (2014-2024) e os constantes riscos que são impostos ao financiamento da educação pública brasileira representam um significativo risco à garantia do direito à educação, especialmente das e dos estudantes negros.

MEDIDAS ANALISADAS E IMPACTOS NO SERVIÇO PÚBLICO E NA EDUCAÇÃO

EC 95/2016 (“Teto de Gastos”), em vigor desde 2016, congela os gastos públicos por 20 anos. É a única medida fiscal de tão longa duração no mundo e inviabiliza, entre outras políticas públicas, o PNE.

EC 109/2019 (“Controle das Despesas Públicas”) se propõe a reduzir os gastos públicos sociais por via de medidas como congelamento de salários, suspensão de concursos e a limitação de investimentos públicos.

PEC 13/2021 (“Calote na educação”) desobriga o cumprimento dos gastos mínimos constitucionais com MDE (manutenção e desenvolvimento da educação), colocando em risco mais uma vez o financiamento da educação.

PEC 32/2020, atualmente em debate no congresso brasileiro, apresenta significativos impactos em diversas frentes, como o risco à estabilidade das e dos servidores, medida que pode, em última análise, colocar em risco o princípio constitucional da liberdade de cátedra; a ampliação da contratação de trabalhadores temporários e ainda a possibilidade de ampliação de terceirização. A PEC 32/2020 propõe alterações que podem levar a uma maior rotatividade no serviço público, o que implica em aumento de despesas com treinamentos de novos servidores, e a uma possível descontinuidade e/ou fragilização na execução dos serviços prestados à população.

As PECs 45/2019 e 110/2019 (Reforma Tributária) aumentariam o imposto sobre a educação privada dos atuais 3,65% para 12%, o que encareceria as mensalidades e tornaria o acesso inviável a praticamente 90% do público atendido, oriundos de famílias com renda per capita de até 3 salários-mínimos, impactando o PROUNI (Programa Universidade para Todos).

Reforma Trabalhista (Lei nº 13.467/2017) alterou e flexibilizou direitos trabalhistas e sindicais e pode fazer com que professoras/es sejam remuneradas/os apenas pelas aulas ministradas, precarizando a docência e impactando diretamente na qualidade do ensino.

LANÇAMENTO DE ESTUDO: “NÃO É UMA CRISE, É UM PROJETO: OS EFEITOS DAS REFORMAS DO ESTADO ENTRE 2016 E 2021 NA EDUCAÇÃO – SUBSÍDIOS PARA UMA ANÁLISE A PARTIR DE RAÇA E GÊNERO”

DATA: 25/10, 18h30 (YouTube Campanha Nacional pelo Direito à Educação )

APRESENTAÇÃO DA PESQUISA:

Andressa Pellanda – Coordenadora do estudo, coordenadora geral da Campanha
Ana Paula Brandão – Diretora Programática da ActionAid no Brasil
Vanessa Pipinis – Coordenadora do estudo, pesquisadora, doutoranda FE/USP, integrante da Campanha Nacional pelo Direito à Educação

PARTICIPANTES:
Suelaine Carneiro – Coordenadora de Educação e Pesquisa do Geledés – Instituto da Mulher Negra
Ana Paula Ferreira de Lima – Diretora da Associação Nacional de Ação Indigenista (Anaí)
Raíla Alves – Gerente de Gênero e Empoderamento Econômico da PLAN Brasil.
Shayres Pataxó – Estudante indígena, moradora da aldeia de Coroa Vermelha, do sul da Bahia.

A Campanha Nacional pelo Direito à Educação  É a articulação mais ampla e plural no campo da educação no Brasil, constituindo-se há 21 anos como uma rede de milhares de ativistas e centenas de grupos e entidades que acreditam na construção de um país justo, democrático e sustentável por meio da garantia de uma educação pública de qualidade.

A ActionAid é uma organização internacional de combate à pobreza presente em 43 países. No Brasil, atua desde 1999, beneficiando aproximadamente 300 mil pessoas por meio de projetos de educação, agroecologia, geração de renda para mulheres, inclusão e cidadania.

Campanha Nacional pelo Direito à Educação
Contato SP – Renan Simão: (11) 95857-0824 / comunicacao@campanhaeducacao.org.br
ActionAid
Contato RJ – Ana Carolina Morett : (21) 99502-1957 / assessoria.imprensa@actionaid.org

 

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