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Castanha-do-Brasil em Perigo

 Perigo de extinção da exuberante árvore nativa do Bioma Amazônico: castanha-do-brasil, símbolo de sustentabilidade econômica e ambiental. Um tesouro que precisa de cuidados.

Gelycon Silva – Tatiana Ramos

Manaus – AM, 23/05/2022

2 Minutos

A árvore da castanha-do-Brasil (Bertholletia excelsa) ocorre em nove países (Brasil, Peru, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Bolívia e Venezuela) e é nativa da Amazônia. Popularmente é conhecida também como castanha-da-amazônia, castanha-do-acre, castanha-do-pará, noz amazônica, noz boliviana, tocari ou tururi. A castanheira pode ser encontrada em florestas às margens de grandes rios, como o Amazonas, o Negro, o Orinoco e o Araguaia.

É uma árvore de grande porte, chegando a medir entre 30 e 50 metros de altura e 1 ou 2 metros de diâmetro no tronco, está entre as maiores árvores da Amazônia. Mas há registros de exemplares com mais de 50 metros de altura e diâmetro maior que cinco metros, no Pará. Atualmente a castanheira é mais abundante na Bolívia e no Suriname.

A castanheira pode viver por mais de 500 anos, podendo passar frequentemente dos 1000 anos. Seu fruto possui alto teor calórico e proteico, além de conter elementos que combatem os radicais livres, inclusive sendo recomendado por especialistas para a prevenção do câncer.

Entretanto, a castanheira é considerada vulnerável pela União Mundial para a Natureza (IUCN), e no Brasil está na lista de espécies ameaçadas do Ministério do Meio Ambiente.

Castanha-do-Brasil em Perigo
Árvore icônica do Brasil – Riqueza e trabalho (Img. Internet)

O desmatamento para construção de estradas, barragens, introdução de lavouras e pastagens são os principais causadores da perda de indivíduos que colocam essa espécie em risco de extinção no Brasil.

Para se reproduzirem as castanheiras necessitam de um ambiente equilibrado e saudável. Para que haja a polinização e garantia da troca de gametas, e que haja sucesso reprodutivo (germinação), somente alguns insetos específicos conseguem realizar com eficiência essa polinização.

Muitos desses polinizadores são atraídos por orquídeas que vivem perto das árvores de castanha.

Se as orquídeas ou os insetos são mortos, as castanheiras não dão frutos. O fruto da castanha leva mais de um ano para amadurecer, podendo pesar em torno de 2kg, com uma casca rígida e dura abrigando entre 10 e 25 sementes, as quais são conhecidas e ditas como castanhas. Em condições naturais, os frutos são tipicamente roídos por cutias (Dasyprocta spp.), que espalham as sementes pelas matas, sendo um grande dispersor de sementes desta espécie arbórea.

Caso as sementes não sejam devoradas por roedores, micos ou humanos, elas podem levar de 12 a 18 meses para germinar. Pensando em condições de germinação e comparando a outras espécies de plantas, é um tempo consideravelmente longo. Muitas cutias coletam o fruto, roem e saem pela floresta “escondendo” as sementes para voltar e comer mais tarde.

Porém, elas esquecem onde enterraram grande parte dessas sementes e depois de um ano, as sementes germinam e geram novas plantas que darão início a um novo ciclo da castanheira-do-Brasil.

A castanha-do-Brasil é um produto florestal não madeireiro (PFNM) clássico, é a única cultura de sementes coletada exclusivamente em florestas naturais e comercializada internacionalmente. Só na Amazônia brasileira, mais de 45.000 toneladas de castanha-do-Brasil são coletadas anualmente, com vendas superiores a US$ 33 milhões!

[N.E.: o enorme tronco das árvores adultas e sua madeira também são utilizados na fabricação e produção de barris para o envelhecimento de cachaça de luxo.]

Castanha-do-Brasil em Perigo
Trabalho manual para coleta e retirada da castanha garante a vida de milhares de pessoas (Img. Internet)

Porém, a falta de planejamento sustentável para a coleta e extração da castanha-do-Brasil, a frequência de cortes de árvores grandes e a carência de árvores jovens tem sido um dos grandes responsáveis pelo impacto na dinâmica de regeneração das populações naturais.

Além disso, a caça ilegal predatória tem colocada em decadência a quantidade de cutias e outros animais jardineiros, dispersores da castanha que exercem papel fundamental para o equilíbrio ecossistêmico dessa árvore.

Preservar as áreas florestadas e conscientizar a população acerca da importância ecológica e econômica da castanha-do-Brasil pode contribuir diretamente para aumentar o suprimento de frutos para predadores naturais de sementes e agentes de dispersão, e maximizar as probabilidades de germinação e sobrevivência das mudas da castanheira e possibilitar aos habitantes locais uma renda através do extrativismo.

Gleycon Silva – Gestor Ambiental – Doutorando em Ecologia – INPA
Tatiana de Oliveira Ramos – Bióloga – Doutora em Entomologia Agrícola pela UNESP

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Redação

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