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Revelando Jovens Cientistas

Em edição presencial da Febrace ocorrida no espaço Inova-USP entre os dias 20 e 24 de março, jovens pesquisadores de todo o país apresentaram 225 projetos numa verdadeira maratona científica

Arnaldo Francisco Cardoso

A 21ª edição da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), promovida anualmente pela Escola Politécnica (Poli) da USP e realizada pelo Laboratório de Sistemas Integráveis Tecnológico (LSI-TEC) reuniu entre os dias 20 e 24 de março, 516 jovens cientistas de todo o país responsáveis pelos 225 projetos finalistas.

Febrace de volta em modo presencial

Nesta edição que voltou a ser presencial depois de três anos em modo remoto em função da pandemia, foram 1.800 projetos inscritos em diversas áreas do conhecimento. Na primeira fase de seleção foram escolhidos 500 semifinalistas e, para a última fase, 225 projetos finalistas que passaram pelo crivo de professores universitários e especialistas de todo o país e exterior, atuando como avaliadores.

Como declarou a coordenadora da feira, a professora da Poli-USP Roseli de Deus Lopes: “Os finalistas se destacam pelo rigor científico e pela criatividade na solução de problemas prementes da sociedade. Além disso, uma parte expressiva dos projetos está alinhada naturalmente com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (ODS), o que mostra a preocupação dos jovens com os problemas globais”.

Além da apresentação de seus projetos os finalistas presentes na feira instalada no espaço Inova-USP, professores e avaliadores, assistiram palestras durante toda a semana concebidas para “induzir práticas pedagógicas inovadoras nas escolas e estimular os jovens a seguirem carreiras em ciências e engenharias”.

Desde a criação da Febrace – um ecossistema para potencializar a inovação nas escolas – em 2002 a professora Roseli Lopes já conseguiu engajar mais de 2 mil escolas públicas e particulares de todo o País para que atuem em ações que despertem o interesse pela ciência em jovens de 13 a 20 anos.

Revelando Jovens Cientistas
3 Alunas premiados na 21ª Febrace USP. (Img. Arnaldo F. Cardoso)

Premiações

Na última sexta-feira (24), foram divulgados os melhores trabalhos, que receberam diferentes prêmios como livros e convites para participação em feiras científicas e tecnológicas em diversos estados do país. A maior premiação da Febrace vai para nove projetos, que são os vencedores de cada área.

Esse prêmio, patrocinado pela Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, consiste na inscrição, passagens aéreas e estadias para os pesquisadores e professor(a) orientador(a) para participação na Feira Internacional Regeneron ISEF 2023, a maior competição internacional do gênero, que acontecerá de 14 a 19 de maio, nos Estados Unidos.

Diversidade de projetos e origens

Entre os projetos vencedores neste ano, estão o de um filtro ecológico de baixo custo para o tratamento de água, feito à base de carvão ativado proveniente da biomassa da jurema preta, planta comum no Nordeste, desenvolvido por alunos de Pedra Branca (CE). Outro, criado por alunos de Mossoró (RN), propõe um sistema de coleta e armazenamento de água da chuva com materiais de baixo custo. Também foi vencedora uma aluna de São Paulo que desenvolveu estudo sobre a evasão escolar e a desumanização no ensino à luz do pensamento de Paulo Freire.

Em outras premiações foram agraciados projetos como o de sistema de detecção da Doença de Parkinson (Belo Horizonte – MG); App contra violência à mulher (Hortolândia – SP); Sacolas que viram adubo (Umbaúba – SE), Uso do Grafeno no tratamento da água (Novo Hamburgo – RS); Um protetor solar sustentável, acessível e natural (São Paulo – SP) e outros.

Preocupação com a água e a sustentabilidade

A preocupação com a água se fez notar em vários bons projetos apresentados na feira, coincidentemente, na semana em que se comemora o Dia Mundial da Água. Um destes projetos que recebeu dois prêmios e obteve o 3º lugar na classificação geral da área de Biológicas tem o título “Fibras de Coco e Abacaxi: Solução Acessível para Contaminações por Óleo dos Corpos D’Água no Brasil”, desenvolvido pelas estudantes de São Paulo, Beatriz de Freitas Cardoso, Camila Mecchi Morgado e Maria Laura da Silva Teixeira, terceiro anistas do Ensino Médio do Colégio Presbiteriano Mackenzie. O projeto contou com orientação do professor Alexandre Donizete Marquioreto.

Compreendendo a contaminação de rios e mares com óleo como problema ambiental, econômico e social, o projeto teve como objetivo principal desenvolver “uma ferramenta natural que promova a redução dos impactos ambientais e socioeconômicos da presença de óleo na água, que possa ser facilmente utilizada por comunidades ribeirinhas e litorâneas. Para isso, foram testadas as fibras do coco e da coroa do abacaxi, que são resíduos das frutas […] podendo ser consideradas uma alternativa acessível, por sua simplicidade e baixo custo de produção”. Os testes realizados em laboratório concentrados no fenômeno da adsorção, apresentaram resultados muito positivos, validando a hipótese de pesquisa.

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Agitação dos alunos apreciando os projetos no interior da Febrace 2023. Futuro da Ciências no Brasil. (Img. Arnaldo F. Cardoso)

As três estudantes expuseram com desenvoltura e senso de responsabilidade as etapas realizadas na pesquisa, as dificuldades em administrar o tempo demandado pela pesquisa concomitante às aulas e atividades regulares do colégio. Expressaram o prazer na descoberta da ciência como processo e a satisfação com o diálogo aberto com jovens pesquisadores de todo o país, participantes da feira e com os cerca de vinte avaliadores do projeto.

Na cerimônia de premiação ouvir seus nomes anunciados pelos mestres de cerimônia, Iberê Thenório e Mariana Fulfaro, do apreciado canal do Youtube #Manual do Mundo, que estimula e divulga pesquisas entre os jovens, foi a cereja do bolo e não passou sem uma selfie para ser compartilhada.

Dificuldades de financiamento

Lamentando que “ao contrário de outros países, a Febrace não tenha patrocinadores com contratos de longo prazo” e que “lá fora, eventos similares têm patrocínio de 15 anos, sendo o único mais longo que a Febrace tem, o da Petrobras, por três anos”, a professora Roseli Lopes desabafa “Todo ano temos de correr atrás de interessados em investir em jovens cientistas”.

Diante disto, é necessário reconhecer que ainda há um árduo trabalho a ser feito para que a cultura da pesquisa se dissemine no país e que governos, empresários e até mesmo escolas, compreendam que investir em pesquisa traz bons resultados para todos. A Febrace já enviou para a Feira Internacional Regeneron ISEF nos Estados Unidos 180 projetos que conquistaram 62 prêmios, incluindo bolsas de estudos, estágios e oportunidades de trabalho a jovens cientistas brasileiros.

No atual contexto de expansão veloz das tecnologias digitais e da inteligência artificial, com seus potenciais e riscos, o diferencial mais que nunca deverá ser sustentado pela capacidade humana de criação e inovação através de processos que articulem as diferentes formas de conhecimento e a sensibilidade em relação às contingências e ao ambiente em que o conhecimento se faz ferramenta de transformação social.

A ciência como processo, reafirmando seu caráter público e seus princípios éticos é que ajudará as nações a superarem problemas e elevarem seu padrão de desenvolvimento, gerando riqueza e processos justos de distribuição dos benefícios do desenvolvimento para o bem de todos.

Para todos que desejam ver o futuro como tempo de realizações e não de medo e distopias, é indisfarçável a admiração e o reconhecimento pelo trabalho dos organizadores, apoiadores e jovens cientistas que propiciaram a realização de mais essa edição da Febrace e, assim, renovaram a esperança no progresso da ciência como instrumento de desenvolvimento para todos.

Arnaldo Francisco Cardoso Cientista Político, Pesquisador, Escritor – Professor universitário.

[N.E.: Cientistas brasileiros deveriam permanecer e realizar as suas pesquisas no Brasil. Empresas e governos devem incentivar a revelação deste talentos, mas muito mais do que isso, dar-lhes suporte, oportunidades e incentivos. Investimentos privados e Políticas Públicas são absolutamente necessários para estas realizações.]

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Redação

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