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Educar para Empatia – sem Hipocrisia!

O que está de errado no mundo? E o que podemos fazer a respeito? Qual o sentido da vida, é competir ou cooperar?

Adriana Fóz

São Paulo, 28/04 de 2021.

1 Minuto

Você já assistiu ao documentário, da Netflix, I AM, no qual o famoso diretor americano Tom Shadyac (ele dirigiu filmes tais como O mentiroso, Patch Adams, O Professor Aloprado, e outros) procurou responder às seguintes perguntas: o que está de errado no mundo? E o que podemos fazer a respeito? Qual o sentido da vida, é competir ou cooperar? E eu acrescento, o que realmente fazemos para me melhorar, melhorar a família e arrisco aqui, melhorar o mundo?

Estas perguntas são bem interessantes de fazer para nós mesmos, o problema é que para tal precisamos, ao menos, ter (exercitar) algumas competências tais como: empatia e generosidade. Mas falo destas palavras por meio de seus significados baseados em neurociência e cognição, meu viés (rs) devido a minha formação e prática profissional. E para estas precisamos de alguns ingredientes tais como interesse genuíno, vontade e discernimento para nos conectarmos com quem está próximo e também longe.

Para entendermos a real importância destas palavras precisamos voltar brevemente para o começo da vida, para os estudos sobre o desenvolvimento do cérebro, por meio do qual aprendemos que um bebê primeiro sente o outro (imita, reage…) para então perceber-se. Entende-se como parte indissociada, integral da realidade e só com o tempo, maturação de regiões e redes neurais na inter-relação com o ambiente, passa a ser um indivíduo, que é parte mas é um todo ao mesmo tempo.

Inclusive, estudos recentes de Richard Davidson demonstram que nascemos empáticos e vamos perdendo esta competência pelo modo como somos criados e também pelas escolhas que fazemos. Não entrarei aqui no mérito dos aspectos sociais, do quanto de fato temos o domínio de nossas escolhas, mas foco aqui na sugestão de refletirmos com vontade suficiente, em esforço de discernirmos e na escolha pelo interesse alheio.

No ranking dos países com Empatia

Você já perguntou para sua mãe, ou para seu irmão ou seu filho se você exerce empatia para com ele(s)? Pergunte o que ele(s) pensam de você? Você é um bom filho(a)? Bom irmão(ã)? Bom pai/mãe? Bom, talvez precise também de um pouco de coragem…(outra competência emocional).

Mapa da Empatia nos países. Vermelhos fortes: grande empatia - tonalidades fracas: pouca.
Mapa da Empatia nos países. Vermelhos fortes: grande empatia – tonalidades fracas: pouca.
(Imagem: Michigan State University)

Fala-se muito de empatia, criam programas, discursos, etc em nome desta competência, quando muito pouco se vive seu significado. Só para se ter uma ideia, o Brasil está em 51* lugar no ranking da empatia entre 63 países (pesquisa da univ. estadual de Michigan*). Empatia é ver o outro com o olhar do outro, é se transportar emocionalmente e cognitivamente para o que o outro sente e pensa, em prol da conexão, do contato empático.

Fala-se muito sobre o outro, muitas vezes usando apenas a nossa interpretação, o que eu entendo que o outro quer; o que o outro deve ou não deve fazer, mais pouco sobre o que eu devo, preciso fazer para ser uma pessoa melhor para mim, para o outro e para todos.

Bem, quando escrevi meu mais recente livro, o Frustração -como treinar suas competências emocionais para enfrentar os desafios da vida pessoal e profissional– , procurei abordar 14 competências emocionais que são cruciais para o bem-estar e a superação pessoal dos desafios da vida, que invariavelmente todos passam ou vivem. A frustração é um dos estados emocionais mais nocivos quando não trabalhados, e claro, um dos capítulos do livro é a Empatia!

Mas, foi aí que percebi o quanto não sabemos e o quanto propagamos esta palavra, suas definições sem realmente conhecer a profundidade de seu significado, e a relevância de se aprender por meio do treino, tal competência.

Para treinar a empatia

Trazendo um pouco da minha experiência pessoal, quando vivi meu AVC, enquanto me reabilitava de um terremoto na região esquerda do meu cérebro, passei a perceber o mundo de outra forma, como se não houvesse maldade, erros ou diferenças de rivalidade. Me parecia tão claro, como quem coloca um óculos para enxergar mais, ou ainda, retira a lente que deixava tudo mais distorcido, e este olhar mais parecia o olhar empático de uma criança.

Capa do Livro de Adriana Fóz - 
Frustração -
Capa do Livro de Adriana Fóz (Img. do autor)

Parece até maluquice, dizer que eu enxergava melhor quando meu cérebro estava doente. Mas fato é que outras áreas cerebrais “descobriram” que poderiam fazer outros caminhos, que poderiam também ser “parceiras” uma das outras, e ainda mais, pois o cérebro já é por si só um exemplo de empatia e generosidade orgânica, quando empresta, simula, colabora e toma decisões conjuntas, sempre buscando o melhor. Sim, é este o trabalho de nosso organismo e que não usamos sua “sabedoria”, e ainda, desperdiçamos quando buscamos qualidade de vida!

E foi com este olhar e atitudes de esforço que consegui superar dificuldades bem difíceis de serem reabilitadas. Então experimentei novamente o olhar da empatia genuína, um olhar poderoso, de força, ao contrário do que vejo ainda muitos temerem. Pensar no outro, se esforçar para o melhor do outro, é uma jornada em que todos ganham, por incrível que pareça.

Então para respondermos àquela pergunta, a qual foi mote do documentário Eu sou, qual o sentido da sua vida, o que você escolhe? Cooperar ou competir? Será que somos exemplos de empatia para os filhos, funcionários, colegas de trabalho, para os irmãos ou nossos pais? Só assim, nosso cérebro e nossa vida responderá à altura.

Talvez um de vcs tenha assistido ao documentário de 2004, chamado “Quem somos nós?” (What the bleep we know?) o qual introduz a física quântica e a ideia da influência dos nossos pensamentos em nossa vida.
Outros filmes: God knows where i am (Deus sabe onde estou – em tradução livre) e Happy (Feliz), ambos da Netflix.

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Redação

ÆscolaLegal é um esforço coletivo de profissionais interessados em resgatar princípios básicos da Educação e traduzir informações sobre o universo multi e transdisciplinar que a envolve, com foco crescente em Educação 4.0 e além, Tecnologia/Inovação, Sustentabilidade, Ciências e Cultura Sistêmica. Publisher: Volmer Silva do Rêgo - MTb16640-85 SP - ABI 2264/SP