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Minha Terra – Minha Língua

Síndrome de Policarpo Quaresma, major ultranacionalista da ficção literária do escritor pré-modernista Lima Barreto descamba para “verdismoarelético” de quem mal conhece o próprio país. Minha terra minha língua se torna assim uma parvoíce binária.

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São Paulo, 30/11 de 2020.

O escritor paulista Monteiro Lobato criou ou adaptou (literatura é imitação da vida, enquanto arte) a figura do Jeca Tatu, um típico brasileiro amarelado por verminose e de pés descalços, habitante dos interiores do estado de São Paulo e quiçá das Minas Gerais – café com leite – que na leitura de FHC (um típico presidente do Brasil arvorado em bacharelados e diplomas que uma vez chamou o povo de seu país de Jeca Tatus, com a intenção de agradar o rei da Espanha…Foi isso?)

Bom, Carlos, o rei da Espanha também mandou Hugo Chávez (militar chefe de estado da Venezuela) calar a boca para agradar, ou não desagradar outros chefes de estado (norte-americanos, pelo que sabe, durante uma reunião de cúpula das américas, em que as críticas direcionadas entre eles aqueceram o ambiente.)

As duas situações demonstram o quanto reis e presidentes podem ser deseducados, grosseiros e desconhecedores da situação dos seus países, na medida em que vivem cercado de palacianos e não atuam direta e consequentemente com o seu povo – aquela fatia da sociedade que não tem uma face, ou uma característica sociologicamente definida, dada a sua heterogeneidade.

Mas, o escritor Lima Barreto, em seu romance Triste fim de Policarpo Quaresma, localizou com maestria as feições, os traços psicossociais e caracterizou muito bem os tipos brasileiros, tanto os populares que as elites cheirosas, canhestramente de origem lusitana, detestam, quanto os militares, os presidentes e seus sicofantas de plantão em diversos pontos da sociedade afluente.

Um brasileiro acima de tudo – não como os atuais ‘acima de todos’!

O major Policarpo, um posto na média hierarquia militar do exército, está acima de capitão, que era o inferior imediato do sargento-mor (no exército português, pelo menos), e não de milícias, dado que nos remete a outro romance curioso, também narrativa de prosa popular, no estilo classe media baixa, não aristocrática, portanto, fora da elite.

Este major Policarpo adorava seu país, e via muita coisa errada por onde andava. A começar pelo próprio departamento militar ao qual estava, de alguma forma ligado, e a burocracia que regulamentava seu dia a dia profissional. Generais, coronéis, almirantes barrigudos, ordinários e mandriões.

O estado estava montado daquele jeito, fora a herança deixada pelo reinado de Dom João VI e demais portugueses que ‘escaparam’ ao golpe civil-militar republicano de 1889.

E é justamente deste golpe, do exercício continuísta da apropriação do poder pelos militares (serviçais fardados), instigados pelos detentores dos recursos econômicos de então, que surge o mote da arenga e do nacionalismo acirrado do major Quaresma descrito no livro.

Pela sua língua, Lima Barreto não poupa ninguém, e tece críticas, às vezes até caricatas, do próprio Floriano Peixoto, um general medíocre de beiço caído, pusilânime, também visto como genocida do povo brasileiro, que pela coroação de sua selvageria contra o povo baiano e nordestino na questão de Canudos (ver Antônio Conselheiro).

Quadro das línguas indígenas brasileiras – tantas quantas das tribos europeias.

Minha terra, minha língua

Policarpo convivia com este e outros tipos de gentes, nas ruas das cidades, nos sítios rurais onde procurou viver da terra após uma aposentadoria e o desengano com o poder, os militares e a situação do país, segundo ele abandonado e mal tratado apesar de riquíssimo.

Quando Mário de Andrade (modernista da Semana de 22) diz que os “males do Brasil são as saúvas” pode está prestando uma homenagem velada ao major Policarpo que entrou em guerra franca contra estas formigas durante um tempo de sua vida.

Mas, um dado que merece destaque do romance de Lima Barreto é justamente a questão da língua – àquela época o major já havia se insurgido contra a invasão cultural dos galicismos, da francofonia afrescalhada dos salões burgueses, das infiltrações germânicas ou inglesas na nossa língua. Sequer o português o satisfazia. Para ele a verdadeira língua brasileira era o Tupi-Guarani.

Eis a razão deste texto. Lembrar que este era um dos troncos principais das línguas que falavam os moradores locais, séculos antes da chegada dos brancos portugueses. Só na República do Pará existiam mais de 500 línguas indígenas até o começo do século XX. Um estudo bem aprofundado sobre as línguas do Brasil foi feito por Ayron Rodrigues. Outro repositório importantíssimo é o museu Emilio Goeldi na capital Belém do Pará.

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Redação

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