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Copa – Futebol é Quente!

A Copa de Futebol do Catar suscitou inúmeras polêmicas no cenário esportivo e político. As profundas questões ligadas às tradições dos países emirados tem a ver com religião, petróleo, gás natural e, agora com a dependência europeia da energia,  até então assegurada pelo gasoduto que a liga à Rússia.

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São Paulo, 21/11/2022.

Minutos.

 

Foi bem antes de começar. O conflito armado entre Ucrânia e Rússia – controle de territórios – para evitar a expansão da OTAN sobre territórios antes pertencentes (ou ocupados) é fato/conflito geopolítico antigo e vem se repetindo (2014). Talvez devêssemos entender melhor o Pacto de Varsóvia, no calor da Guerra Fria, pós Segunda Guerra. Mas, não agora. Siga os links.

O contexto atual nos leva para dentro (ou fora!) dos gramados. E enquanto chutam a bola (simbólica), atores mais nervosos e violentos cutucam partes do planeta com bombas, tiros e estratégias por poder.

O Catar, o menor país dos emirados árabes, é riquíssimo. Terceiro maior produtor mundial de gás natural. Especula-se que foi escolhido para sediar a Copa FIFA 2022 por isso. Quem decide são os organizadores do evento, numa espécie de bingo com números controlados, aparentemente aleatórios e sorteados cerca de 2 anos antes. Diversos países  se habilitaram para o sorteio, e todos, indistintamente, levaram razões políticas internas e externas, aliadas à lógica do mercado para o grande dia.

A insatisfação dos pretendentes a anfitriões durante a escolha do país sede foi evidente. Qualquer leitura mais rasa do vídeo durante o encontro em que se deu a leitura dos votos, deixa claro que a escolha foi mal recebida por todos. Menos para o Catar, claro. Você viu a quantidade de patrocinadores envolvidos? Só a Coca-Cola, por exemplo, deve ser mais rica e ter um orçamento anual superior ao PIB de muitas das nações envolvidas.

Jogo trilionário – Com ela, outras grandes multi e transnacionais estão colocando recursos valiosos no encontro do esporte mais concorrido do planeta. Entretanto, o país sede não tem a menor tradição no esporte. As reclamações, as intrigas e as críticas também se originam em questões geográficas, de condições e ordens operacionais, climáticas, sociais, políticas, econômicas etc. 

Das muitas razões

Por lá o verão é insuportável, e chega facilmente aos 40º C, ou mais, e por conta disso, por si só, torna-se impraticável para os jogadores de países nórdicos, mais acostumados ao frio, e que perdem muito de seu rendimento físico no calor escaldante da região. Eis a razão do “atraso” da competição – é melhor jogar no inverno, época em que as temperaturas e o clima estão mais amenos e suportáveis do país. Nesta Copa – Futebol é Quente!

Copa - Futebol é Quente!
Mapa dos países em torno do Golfo Pérsico. Lá onde a Copa da FIFA 2022 acontece. (Img. Web)

Outra questão é a condição social do Catar. Analistas de vários países concentraram suas críticas na tirania da família no poder, desde que a Inglaterra saiu da cena de seu protetorado, lá pelos 1970.  A família Thani se reveza no trono desde então. Não é diferente dos outros países que constituem os Emirados Árabes

Perseguição aos cristãos, às mulheres, aos gays e homossexuais, o rigor religioso das nações teocráticas ligadas ao Islã. Enfim, todo tipo de comentários, fatos e motivos seculares. É preciso um metro moral muito preciso para tecer alguma crítica mais efetiva.  O menos importante é que a própria seleção de futebol do país não tem a menor chance de ganhar um jogo sequer. São, no jargão popular, um bando de pernas de pau, grossos! Mas, de fato que se importa? Os patrocinadores?

As cotas de patrocínio devem somar algo na casa dos bilhões de dólares, e as empresas querem ver seu nome esparramados pelas mídias tradicionais, novas e alternativas. Além de tudo, o país as poderá receber no futuro e crescer com uma injeção de capitais e tornar-se a Taiwan da região, como uma zona franca, mesmo sob o risco (pequeno, anote-se) de se tornar rebelde ao congregado dos emires. Não que eles precisem, ou que este seja o mote nos bastidores do evento.

Da razão principal – Força bruta, Riqueza e Economia dos maiores envolvidos

É também, mas voltemos ao lead do texto. Inverno se aproximando; Europa com restrições ao comércio do petróleo e ao gás natural russo; risco eminente de desabastecimento já alterando as condições econômicas, políticas e sociais do bloco; uma guerra se arrastando no quintal com um “parceiro” que até então estava “numa boa” com todos, fornecendo-lhes os recursos naturais capazes de aquecer os lares e manter as empresas funcionando, de um lado o com o outro “parceiro” quantidades significativas de trigo, grãos e alimentos.

Copa - Futebol é Quente!
Civis passam frio nas regiões onde o inverno é rigoroso. (Img. Web)

O que mais é necessário? Casa, comida e trabalho garantidos. Simples assim! Estava tudo indo bem até que um acordo foi feito entre o “Urso e a Águia” (por que penso nos encontros entre Trump e Putin?). Tudo na esteira da transição climática, da reorganização das economias e dos poderosos atores do mundo globalizado. E por que agora penso no encontro ente Biden e XI Jinping ? O tigre está na arena. Bom, podem ser apenas especulações, mas o mundo gira sempre contra as nossas vontades, ideias ou desconfianças. Veja o mapa.

A Europa se mantém, a guerra contra a Rússia dura mais alguns meses, o gás e o trigo voltam a circular e os grandes atores respiram por mais uns 30 anos, pelo menos. EUA, China, Rússia, Inglaterra, Alemanha, França, Turquia, Ucrânia e Irã jogam o jogo mais sério (mais de 2 bilhões de pessoas diretamente envolvidas). O resto bate bola sob o Sol próximo ao Equador e deixam uma medalha pro Catar e seu emires familiares. Sempre bons negócios!

Ah! E o Brasil, como ele entra nessa arena?

Pode até se classificar para as quartas de finais. Tem tudo para chegar a semifinal. Futebol por futebol, pode até trazer uma medalha ou a taça. Porém, é aliado da Europa com quem mantém tratados históricos, parceria comercial forte, tem o beneplácito do tio Sam, o “guardião” do Ocidente nesta etapa da transição, e diplomacia suficiente para também negociar com a China, os Emirados Árabes e até com a Rússia.

Esta história de combater o comunismo é mesmo uma balela avessa à estabilidade mundial e deixou o país na cauda do aeronave, do lado de fora! Bola pra frente que o jogo é quente!

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Redação

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