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Rede Invisível de Educação Ambiental?

A pandemia do COVID-19 obrigou toda humanidade em um curto período de tempo a mudar, repentina e profundamente, a forma que se relaciona em sociedade, mesmo com esforços de pesquisas por todo o mundo para a imunização em massa e, com isto, a esperança de se retomar a vida ‘normal’. Mas, não demorou muito para que se tornasse senso comum que a vida não seria mais como a conhecíamos. O que surgia no horizonte era o despertar de ‘um novo normal’.

Maria Lina Souza Aguiar

Belo Horizonte, 06/09 de 2021.

2 Minutos

Este ‘novo normal’ ainda nos causa inseguranças e dúvidas, principalmente com as variantes do vírus. Mas nos ajustamos à nova realidade. O planeta agradeceu ao poder respirar melhor na pandemia com a diminuição da queima de combustíveis fósseis, que tem como resultado o gás carbônico. Sim, com menos carros nas ruas foi possível avistar as montanhas do Himalaia na Índia, por exemplo. E inúmeras fotos estão disponíveis na web para que possamos apreciar vistas que há muito não se conseguia enxergar mais.

O impacto da pandemia foi sem precedentes. Principalmente em razão da velocidade de informações e de soluções quanto a prevenção, resposta e imunização da saúde dos povos. E dentro deste cenário, que não é pós pandêmico ainda, reflete-se muito em sobre as conexões criadas, com o outro e a sociedade, e como estas conexões nos são valiosas.

Vimemos em uma época em que nunca se produziu tanto conteúdo científico disponível a toda população no mundo. Mesmo conteúdo de idiomas distintos se tornam acessíveis na língua pátria de cada país, ainda que com certas ressalvas.

Estamos ansiosos por reestabelecer nossas conexões e interagir fisicamente com o outro em uma forma de existir para além de nossa imagem no espelho de nossas casas. Sentimos falta do outro por gostarmos do outro e, precisarmos dele, em justificativa de nossa identidade.

E sabedores deste ‘novo normal’, perceptivos desta saudade de contato humano, admirados com o nível, capacidade e resposta que a ciência deu neste período, cabe perguntarmos: Como pesquisadores, qual o meu verdadeiro papel neste mundo tão multiconectado? Para que e para quem servem as minhas pesquisas?

Perceber que o conhecimento científico fez profunda diferença no enfrentamento da pandemia e que foi a acessibilidade deste conhecimento que impediu números das mortes muito maiores, compreender o papel da ciência e dos que fazem ciência na promoção da qualidade de vida e enfrentamento aos desafios e, mais ainda, promover a ciência acessível aos educandos por meio da publicação dos dados de pesquisa em uma linguagem acessível e facilitar a vida dos educadores com estes materiais cuidadosamente preparados, pois são estes, os novos agentes de destaque no mundo pós pandêmico, ao apontar novos caminhos para os jovens que ainda aprendem sobre meio ambiente e cidadania.

Lagos e meio ambiente protegido
Lagos são pequenas porções de águas cercado de terra por todos os lados. Temos uma Rede Invisível de Educação Ambiental? (Img. Internet)

Propõem-se neste texto um convite para além da reflexão, pelo menos dentro de minha área de pesquisa, Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente, a criação de uma rede baseada em princípios de verdadeira cooperação, comprometidos com a educação dialética para as futuras gerações.

Os educadores são o principal, quando não o único e real, caminho para a conscientização da realidade e do mundo. É por meio da Educação Ambiental nas escolas que buscará o despertar do papel do cidadão e de futuros pesquisadores, ainda em formação.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL – ENTRE EDUCADORES E PESQUISADORES

Não sou educadora, porém, busco compartilhar conhecimento aos que se interessam pela temática em toda a sociedade. Contudo, precisamos falar mais do papel dos professores, educadores, mestres, não apenas na medida do possível, mas como corresponsáveis pela produção da ciência a ser ensinada nas salas de aula, em verdadeiro esforço diligente.

Infelizmente, bons conteúdos acadêmicos são escritos apenas para a academia. Precisamos ter claro que para a proposta de educação ambiental por exemplo, precisamos escrever para os alunos desde os anos iniciais. Precisamos estar comprometidos em fornecer material de nossos estudos para estes profissionais que, por meio de esforços próprios quando não solitários, encontram na falta de uma linguagem acessível aos jovens, conteúdos que nós podemos dispor concomitantemente aos artigos científicos.

Precisamos nos sensibilizar como pesquisadores que a Ciência está para solução dos problemas da humanidade, e que esta humanidade precisa acessar a Ciência por meio de uma linguagem didática e dialética para que alunos e professores tenham condições de utilizar em sala de aula.

E é com este princípio, de ser ferramenta, que revejo meus critérios de apresentação das pesquisas e conteúdos acadêmicos. Comprometo-me e convido a cada pesquisador ou produtor de conteúdo científico, apresentar o mesmo conteúdo de maneira acessível aos alunos em idade escolar. Proponho um breve texto para Educação Ambiental com anseio que os educadores, caso concordem com a proposta, possam avaliar o conteúdo e orientar qual o melhor caminho a seguir.

Não se detenham nas críticas e considerações. O verdadeiro pesquisador tem o espírito curioso e analítico com a busca pelo conhecimento. Temos mais experiências em erros que em acertos por sabermos que para a verdadeira Ciência existir é preciso de rigor científico feito por meio de testes e ensaios para alcançar o resultado. Antíteses a nossas teses e teorias é o que nos garante o caminho certo.

Milhares de anos vivendo na região amazônica
Índio pescando no rio Amazonas (Img. Internet)
 A REDE

Aos pesquisadores com carinho” (no título original a palavras mestre foi substituída pelo pesquisador intencionalmente), aqui uma reflexão das palavras do sociólogo e filósofo francês Edgar Morin, que publicou um artigo no jornal francês Le Monde (2010):

“Com efeito, tudo começou, mas sem que se soubesse. Estamos no estágio de começos, modestos, invisíveis, marginais, dispersos. Porque já existe, em todos os continentes, uma efervescência criativa, uma multiplicidade de iniciativas locais, em conformidade com a revitalização econômica, ou social, ou política, ou cognitiva, ou educacional ou ética, ou da reforma da vida.

Estas iniciativas estão isoladas, nenhuma administração as leva em conta, nenhum partido toma conhecimento delas. Mas elas são o viveiro do futuro. Trata-se de reconhecê-las, inventariá-las, cotejá-las, catalogá-las, combiná-los e de conjugá-las em uma pluralidade de caminhos reformadores. São estes caminhos múltiplos que podem, através de um desenvolvimento conjunto, se combinar para formar o novo caminho que nos levaria em direção à metamorfose ainda invisível e inconcebível.

Para desenvolver formas que vão desembocar no Caminho, é preciso identificar alternativas limitadas, que limitam o mundo do conhecimento e do pensamento hegemônicos. Assim, é preciso ao mesmo tempo globalizar e desmundializar, crescer e diminuir, desenvolver e envolver.

(…) Já não basta mais apenas denunciar.  Precisamos propor. Não basta apelar à urgência. É preciso saber também começar a definir os caminhos que levarão ao Caminho. É para isso que estamos tentando contribuir.”

 EDUCAÇÃO AMBIENTAL:  Afinal, quanta água existe no planeta?

A água é essencial para a vida no planeta e, mesmo que composto em sua maior parte por água, não é possível calcular com precisão o seu estoque aquífero. Trabalhos ao longo dos anos foram e são elaborados buscando saber mais esta “desconhecida realidade” por meio de análises científicas.

Em percentuais, Sperling (2006) discutiu dados de alguns institutos dedicados à pesquisa do volume hídrico do planeta. Ainda que as fontes não concordem com os resultados, ele nos mostra uma aproximação com grande proximidade de resultados estimativos. Mas, Sperling também adverte que estes números não correspondem fielmente à realidade. Assim, temos como resultado de seu estudo:

Tabela 01 – Volume de Água no Planeta em valores percentuais por categoria.

Classificação Origem Percentual
Oceano 97,07526%
Água não oceânica 2,92474%
Geleiras 1,91523%
Águas Subterrâneas 0,98828%
Lagos 0,011646%
Umidade do Solo 0,00366%
Atmosfera 0,00095%
Rios 0,00009%
Organismos 0,00007%
Total

 

  100%

Fonte: Sperling (2006)

Mas o que isto significa? A grande realidade é que mesmo sendo conhecida como ‘Planeta Água’, a Terra não tem grande quantidade de água que possa ser usada para o consumo humano. Na verdade, de acordo com a tabela acima, temos apenas 1,000016% (águas subterrâneas, lagos e rios) de águas disponíveis.

Um volume percentual muito pequeno e, que torna a água que as pessoas podem consumir, um recurso ainda mais finito e insubstituível para a vida no planeta.

Você já pensou nisto? O mundo não tem mesmo tanta água assim. Então, o que mais precisamos saber?

 

 

 

Agradecimentos oportunos

Agradeço a lição de vida:

A todos os profissionais de saúde exauridos em suas forças e em alguns casos do folego de vida;

A todos os pesquisadores que se debruçaram noites adentro na busca da vacina e de soluções nas mais diversas áreas para manter o desenvolvimento humano;

Ao meu Prof. Dr. Higor Rossoni que, antes de doutor é educador, e me despertou este olhar durante o estudo de águas para consumo humano e residuárias;

Ao Prof. Volmer Rêgo que tem travado uma luta consistente enfrentando os mais diversos desafios para dispor deste veículo comprometido em uma educação de qualidade e libertadora.

Em nome de todos os pesquisadores e educadores, Muito Obrigada!

 

Bibliografia

SPERLING, E. von, Afinal, Quanta Água Temos no Planeta? RBRH – Revista Brasileira de Recursos Hídricos [on line]. 2006, v. 11, n. 4, pp. 189-199 [Acessado 14 junho 2021.
Disponível em: https://www.feis.unesp.br/Home/departamentos/fitossanidadeengenhariaruralesolos715/pdf_391_-_rbrh_v.11_n.4_2006_afinal_quanta_agua_temos1.pdf]

SOUZA, Dra. Roseane. PSA – Plano de Segurança da Água: Como foi tratado o PSA no novo texto da portaria & Quais são as contribuições que um plano bem estruturado pode trazer para o cumprimento amplo da portaria?. In: UCCW, D`Artagnam (org.). BionPortaria GM MS Nº888: Por Trás das Cortinas. Brasil: UCCW Cursos, 20 maio 2021. List maintained by the Bases de Dados Tropical, BDT in Brasil. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ow_ev8w0i2k. Acesso em: 20 maio 2021.

MORIN, Edgard. Eloge de la métamorphose. Le Monde. Publié le 09 janvier 2010 à 13h08 – Mis à jour le 31 décembre 2010 à 14h18.

Hygor Aristides Victor Rossoni – COORDENADOR DO CURSO SUPERIOR EM TECNOLOGIA EM GESTÃO AMBIENTAL 2018 – Professor da Universidade Federal de Viçosa – Campus Florestal e Doutor em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos pela Universidade Federal de Minas Gerais.  http://lattes.cnpq.br/5963315112031411

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Redação

ÆscolaLegal é um esforço coletivo de profissionais interessados em resgatar princípios básicos da Educação e traduzir informações sobre o universo multi e transdisciplinar que a envolve, com foco crescente em Educação 4.0 e além, Tecnologia/Inovação, Sustentabilidade, Ciências e Cultura Sistêmica. Publisher: Volmer Silva do Rêgo - MTb16640-85 SP - ABI 2264/SP

9 thoughts on “Rede Invisível de Educação Ambiental?

  • Mônica lacerda grandini

    A formação desta consciência sustentável é um caminho sem volta. Parabéns pela iniciativa. Gostaria de entrar em contato com vc. Desenvolvo um trabalho com bonecas que tenta estabelecer esta consciência ecológica para as crianças.

    • Maria Lina Aguiar de Souza

      Será um prazer Mônica Lacerda Grandini!
      Vamos sim. Segue meus contaos: marialaguiars@outlook.com
      W.sapp: 31 988466829

      Vamos juntas pensar em expandir novas ideias…

      Obrigada.
      Maria Lina Aguiar.

  • Robson Lima

    A formação da consciência sustentável desde o inicio do aprendizado, na formação do ser humano, sem duvidas é o melhor caminho para se formar um futuro melhor…o ensino é o melhor, se não o único, investimento com garantia de um retorno positivo… Muito bom texto, prazeroso de se ler e refletir…

    • Maria Lina Aguiar de Souza

      Obrigada Robson Lima! E com certeza é o nosso desafio!
      Como você pensa que podemos alcançar professores e alunos?
      É interessante fazer neste formato, primeiro mais técnico e após um mais pedagógico?
      Elaborei um mais recente com o viés pedagógico apenas, deve ser publicado em breve na A Escola Legal – Vida em Harmonia. Poderia comparar e sugerir?
      Como diz Freire, é um processo que todos nós nos educamos mutuamente em correspondência com o mundo que nos problematiza de volta…
      Forte abraço,
      Maria Lina Aguiar

    • Maria Lina Aguiar de Souza

      Prezada Tânia Lúcia,
      Esta autorização não depende de mim, pois meu compromisso é de elaboração de publicações exclusivas para A Escola Legal! Mas peço aos organizadores que considerem seu pedido, com os devidos créditos do site, pois o objetivo é alcançarmos o maior número de pessoas!
      Obrigada.

      Maria Lina Aguiar.

  • Rita de Jesus Leria Aires

    Ótima a ideia de auxiliar os professores, orientadores e pesquisadores a encontrarem recursos didáticos para, no seu cotidiano, compartilharem novas informações.

    • Obrigado Rita. Sim, a luta dos professores, principalmente os da Educação pública é extremamente árdua e tratada, às vezes como categoria profissional desnecessária por governantes sem a menor preocupação com os aspectos sociais de professores e alunos.

    • Maria Lina Aguiar de Souza

      A Educação emancipadora e crítica é o caminho para viabilizar cidadãos inconformados com qualquer tipo de exploração dos recursos naturais e atentados contra a dignidade humana. Somos muitos que lutam por uma justiça socioambiental.
      Edgar Morin, que publicou um artigo no jornal francês Le Monde (2010) e concordamos com este posicionamento:
      “Com efeito, tudo começou, mas sem que se soubesse. Estamos no estágio de começos, modestos, invisíveis, marginais, dispersos. Porque já existe, em todos os continentes, uma efervescência criativa, uma multiplicidade de iniciativas locais, em conformidade com a revitalização econômica, ou social, ou política, ou cognitiva, ou educacional ou ética, ou da reforma da vida. (…) Já não basta mais apenas denunciar. Precisamos propor. Não basta apelar à urgência. É preciso saber também começar a definir os caminhos que levarão ao Caminho. É para isso que estamos tentando contribuir.”
      Então, estamos todos juntos e isto é impossível de parar…
      Forte abraço!
      Maria Lina Aguiar.

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