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Cultura-Educação e Sociedades em risco

Um país se faz com Homens e Livros, já disse Ruy Barbosa. Contudo, sem Educação de qualidade desde a base, sem investimentos em estrutura no ensino médio, universitário e sem pesquisa não veremos país nenhum! Nossa cultura vai pro lixo e vamos nos perder.

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São Paulo, 02/10 de 2021.

2 Minutos

 

O já falecido professor Alfredo Bossi fez excelentes considerações, lucidas e úteis a respeito da Cultura, especialmente ao introduzir o conceito a partir de suas observações etimológicas. Diz ele em um de seus livros, derivar a palavra da raiz latina – Colo, que gerou cultus, cultura, e a partir de uma flexão verbal em  colono, colônia, e nas relações subsequentes que envolvem a existência e o ser do humano no contato com a terra.

Ao mesmo tempo, ao estender estas relações ao cotidiano ele deixa entrever, em uma não declarada análise dialética e científica a questão do homem com a terra, da posse desta, e, claro, o que advém dos conflitos entre proprietários – os donos – e os que nela trabalham: colonos, posseiros, grileiros (este último um tipo sociologicamente contestável), arrendatários etc…E daí toda a sorte de práticas, das técnicas, dos símbolos, valores que perduram em dada sociedade. E quanto tempo dura uma Cultura? Desde Gilgamesh, egípcios, babilônicos, os maias…

Podemos ir adiante e fazer deste estatuto social: proprietário de terra x trabalhador rural, categorias distintas de uma atual sociedade capitalista, precária e decadente, um ponto de partida para avançar em duas outras considerações de interesse. A primeira é que a posse da terra é uma atribuição anti-natural*. Pode-se arguir que no sentido primário do tema que defender território é básico no sistema hierarquizado da natureza, no seu estruturado modelo de divisões funcionais a partir da alimentação: primária, secundária e terciária – e o encadeamento ecológico.

Desde sempre, na história da civilizações, os humanos e todas as outras formas de vida do planeta, buscaram se estabelecer próximos aos cursos de água doce. Mas, o fluxo natural do planeta leva as chuvas para diversos lugares, e às vezes chove mais em um do que em outro, ciclicamente, elas sempre retornam e cumprem seu papel – marcando as estações. A humanidade alterou, até prova em contrário, estes fluxos, chamados de rios aéreos, por onde trafegam pela força dos ventos, as águas das chuvas evaporadas de outras grandes concentrações, de região em região.

Cultura-Educação e Sociedades em risco – Sem Cultura, a expressão máxima de uma comunidade complexa, não há vida... (Img. Internet)
Chuvas, árvores, cultura e existir sem ser

O caminho parece claro, básico e notório. As chuvas, as nuvens, os rios aéreos seguem as árvores. Estas se desviam na mesma proporção em que o desmatamento reconfigura o traçado natural das florestas.

E básico é o conhecimento que se adquiriu com o tempo e as pesquisas: as árvores consomem a água do solo e exsudam através das folhas – grandes florestas concentram grandes quantidades de água no solo, nas árvores e no ar.

Os ventos levam esta água em forma de aerossóis, gotículas que se concentram em nuvens para longe, mas de acordo com o traçado das árvores, das florestas, dos rios aéreos.

Podem até se dispersar, montanhas, cadeias rochosas e outros acidentes naturais, e provocam chuvas em outros locais, mas isto parece estar no plano. Todos tem acesso à agua.

O mais interessante neste sistema equilibrado é perceber que as árvores retiram do solo a quantidade de água necessária e suficiente que vem da chuvas e seus regimes programados, dos aquíferos que delas se alimentam. E não há desperdício. E embora saibamos que haja competição e defesa de território entre elas, mesmo isto se dá de forma equilibrada, levando em conta as diversas maneiras que cada espécie desenvolveu para se crescer, atrair colaboradores e espalhar suas  sementes e reproduzir-se, o que dá espaço para uma enorme variedade delas.

Esta inteligência natural também está presente entre os seres humanos, mas foi obscurecida por outros sentidos e sentimentos gerados com o tempo no complexo sistema social, que gerou o econômico, que gerou o político onde nos inserimos. Dos pecados originais, às doenças de cunho psicológico, os desvios utópicos, transtópicos, distópicos, metatópicos comuns em grandes conglomerados sociais. Aquela coisa de homem lobo do homem no Leviatã, ou a digressão bíblica de Caim e Abel. A evolução histórica da humanidade nos afastou da natureza mãe, primária? E no que estamos nos transformando? Ciborgues, máquinas, virtuais…? Há regresso possível?

Há que se pensar então nas lições que o tempo nos traz, e refletir conscientemente, profunda e calmamente. A melhor forma de, ou a única de evoluir em harmonia com o que nos cerca, se deu e dará sempre pela Educação, a mais consistente e firme ferramenta de traduzir, levar e explicar a Cultura. Atacá-las, destruí-las ou cercear as suas ações, como seres mágicos e mitológicos que precisam do ar e das chuvas para continuarem a alimentar a humanidade é um crime para o qual não a menor possibilidade de prescrição. Simples, por que é da Natureza reagir de modo surpreendente e sempre invisível enquanto se reorganiza, e se prepara para dar-nos uma resposta.

Cultura-Educação e Sociedade em risco. Quais Culturas sobreviverão? (Img. Internet – MIT)

*Podemos imaginar que a razão e a capacidade humanas elevou-se evolutivamente  a um patamar suficientemente razoável para definir espaços e modos de agir, capazes de reservá-los sob circunstâncias inteligentes, protegidos, saudáveis, produtivos, e portanto, úteis à vida. Espaços para tudo: viver, morar, trabalhar, plantar, estudar, brincar, crescer e desenvolver-se, sem ter de recorrer às formas antiquadas e destrutivas de convivência entre diferentes etnias (ou raças, ou culturas).

Esta é, porém, uma consideração-opção específica da natureza humana, que em parte ainda responde à sua condição primitiva e animal – possivelmente localizada no complexo reptiliano do cérebro. Útil para alguns momentos e desnecessário em outros.

Questiono se a evolução trará novas inflexões a provocará alterações, mas até onde a cultura  – o meio social em consonância com habitat natural – terá importância na sua permanência enquanto manifestação de uma parte importante da humanidade?

Volmer S. do Rêgo

 

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Redação

ÆscolaLegal é um esforço coletivo de profissionais interessados em resgatar princípios básicos da Educação e traduzir informações sobre o universo multi e transdisciplinar que a envolve, com foco crescente em Educação 4.0 e além, Tecnologia/Inovação, Sustentabilidade, Ciências e Cultura Sistêmica. Publisher: Volmer Silva do Rêgo - MTb16640-85 SP - ABI 2264/SP