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A Veia Aberta de Sampa

O Rio Tietê banha 62 municípios paulistas, incluindo a capital do estado mais rico da União (10% das cidades do estado). Não é de se espantar o enorme interesse pelo governo do estado. Siga os links.

Publisher –
Participação Especial Monica Piccinini (Londres)

São Paulo, 20/10/2022

4 Minutos.

O Rio Tietê tem 1.136 quilômetros de extensão. Nasce no município de Salesópolis (leste do estado de São Paulo), a 22 km do oceano Atlântico, em uma região montanhosa a 840 metros de altitude e por conta das escarpas que o impedem de correr para o oceano, ele desce para o interior, na direção do Oeste paulista, onde deságua no rio Paraná.

No percurso do Rio Tietê, encontram-se instaladas diversas barragens aproveitando bem seu potencial de produção hidroelétrica e servido como estações de despoluição das águas. E sua importância histórico-econômica data do século XVIII, pois já servia de rota para os bandeirantes se aventurarem pelo interior do estado e do país, na busca de ouro, pedras preciosas, indígenas para escravizarem e outros recursos.

Na região metropolitana de São Paulo, durante muitos anos, foi utilizado na navegação e até mesmo para a prática de esportes náuticos. Esta situação, porém, se alterou drasticamente a partir de 1950, quando o crescimento populacional e industrial desordenado da cidade de São Paulo, passou a jogar todo o esgoto doméstico e industrial no trecho da cidade, deixando suas águas poluídas e contaminadas. Atualmente, das avenidas marginais, pode-se admirar o corpo morto e apodrecido de suas águas.

Somente no final de 1990, após forte mobilização popular, o governo do estado de São Paulo deu início ao projeto Tietê Vivo. Desde então um grande investimento na ordem de US$ 700 milhões feito pelo Japão (https://www.alternativa.co.jp/Noticia/View/6000/Japao-financia-192-bilhoes-de-ienes-para-o-Onda-Limpa) produziu alguns pífios resultados, dado que o governo da época derivou o valor para um banco privado, e ambos deram um jeito de usar a fortuna para outras finalidades. O rio continua muito poluído e provoca enchentes anuais todos os anos, durante o verão, com grandes prejuízos para a população da cidade de São Paulo, que corta na direção  e sentido Leste-Oeste. 

Há uma discussão que aponta o projeto para despoluição do Rio Tietê como sequência de um modelo parecido com o de engenheiros e cientistas dos institutos ingleses, cuja missão desde o fim do século XVIII tem sido despoluir o rio Tâmisa, que corta a capital Londres. https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/6/6134/tde-16102015-094150/publico (em EduardoMazzolenisDeOliveiraREVISADA.pdf)

Pode-se entender melhor estes dados comparativos (Rios Tietê/SP e Tâmisa – Londres), a partir da leitura de um texto inicial escrito por Monica Piccinini no qual vemos que o Projeto de “Limpeza” do Rio Tâmisa é secular. O Brasil está apenas 900 anos atrasado?

A Veia Aberta de Sampa
A bacia do Tio Tâmisa que corta a capital da Inglaterra. (Img Web)

“No século 13, os londrinos usavam o rio Tâmisa para fins domésticos e industriais, incluindo geração de energia, fabricação de cerveja e culinária. Em meados de 1800, o rio era usado como depósito de excrementos humanos e animais, bem como resíduos industriais.

O esgoto era despejado no rio, produzindo um cheiro nauseante e insuportável. Ficou conhecido como o “Great Stink” de Londres, causando doenças como febre tifoide, disenteria, cólera e morte.

Em 1858, a cólera estava se espalhando exponencialmente, os corpos se acumulavam e a situação estava simplesmente fora de controle. Concluiu-se que a água contaminada foi a principal causa dessa catástrofe sanitária.

O engenheiro civil, Sir Joseph Bazalgette, foi contratado pelo Metropolitan Board of Works com objetivo de construir uma rede de esgoto para aliviar o problema, o extenso sistema de esgoto vitoriano, que ainda está em uso hoje. https://www.museumoflondon.org.uk/discover/how-bazalgette-built-londons-first-super-sewer

A partir de 1976, todo o esgoto que entrava no Tâmisa foi tratado, pela legislação aplicada entre 1961 e 1995 ajudou a elevar os padrões de qualidade da água. A privatização das empresas de água, sob a liderança da primeira-ministra Margaret Thatcher, também viabilizou o estabelecimento da Autoridade Nacional de Rios protetora em 1989, bem como a introdução do monitoramento biótico. https://environmentagency.blog.gov.uk/tag/national-rivers-authority/

Um dos marcos na saúde do Tâmisa foi a instalação de grandes oxigenadores, ou ‘borbulhadores’. A Thames Water Authority desenvolveu um protótipo de oxigenador baseado em uma barcaça fluvial no início de 1980. Um “Thames Bubbler” autoalimentado substituiu isso em 1988, e uma terceira embarcação foi lançada em 1999. https://www.edie.net/oxygenation-of-large-water-bodies/

Atualmente, Londres conta com um sistema de esgoto de 150 anos, construído para uma população com menos da metade de seu tamanho atual. As estações de tratamento estão sobrecarregadas e, como resultado, milhões de toneladas de esgoto bruto são derramados, sem tratamento, no rio Tâmisa a cada ano.

De acordo com a ORIC, Oxford Rivers Improvement Campaign e o jornal The Guardian, a Thames Water despejou esgoto bruto nos rios 5.028 vezes em 2021. No alto Tâmisa, 102 obras de tratamento de esgoto foram lançadas nos rios no ano passado. Das 90 obras de esgoto no alto Tâmisa, 46 não têm capacidade suficiente para atender à demanda de residências e empresas locais, segundo o relatório. https://www.theguardian.com/environment/2022/apr/20/thames-water-raw-sewage-rivers-2021

https://www.telegraph.co.uk/news/2022/01/21/river-thames-has-become-open-sewer-treatment-plants-overwhelmed/?WT.mc_id=tmgoff_psc_ppc_dsa_news&gclid=EAIaIQobChMI1cGm6Y_q-gIV2e7tCh1K8Q-uEAMYASAAEgJAlvD_BwE

Londres está, agora, construindo um “super esgoto” chamado Thames Tideway Tunnel, um projeto de 25 km sob o Tâmisa para interceptar derramamentos desagradáveis e limpar o rio. Esse projeto deverá ser concluído em 2025. https://www.tideway.london/ “.

De volta a São Paulo

A Veia Aberta de Sampa
A bacia do Rio Tietê – Mais de  6o cidades – grandes interesses na região mais rica do país. (Img. WEB – ALESP)

O que se sabe é que até agora o montante gasto com a despoluição do rio vem se avolumando. Em 2015 bateu um recorde anual na casa do meio bilhão de reais. https://fiquemsabendo.com.br/meio-ambiente/gasto-anual-despoluicao-rio-tiete/

Crise Hídrica – Retrato atual do curso d’água mostra que nem tudo, porém, está perdido. Será? Alguns indícios mostraram resultados positivos, embora mínimos. Outros apontam para o descaso absoluto. A mancha de poluição do rio cresceu em mais de 40%. São 122 quilômetros nos 55 pontos de medição em sua bacia: https://www.estadao.com.br/sustentabilidade/mancha-de-poluicao-do-rio-tiete-avanca-mais-de-40-em-um-ano-diz-estudo/

Entretanto, a construção do parque ecológico do Tietê (https://www.parqueecologicodotiete.com.br/rio-tiete/) que tem a sua utilidade baseada em conscientizar as pessoas sobre a importância destas águas. Será que serve de consolo?

Há também o sistema de canalização de todos os córregos e sistema captadores (https://jornal.usp.br/ciencias/software-auxilia-municipios-escolha-estacao-de-esgoto/) dos esgotos e dejetos industriais e residenciais da cidade. As estações de tratamento propostas pela empresa SABESP (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo ), que cuida de toda a água do estado, parecem não ser suficientes.

Nem há, ou pouco se fala da preocupação da indústria da construção civil, urbanização e arquitetura na utilização de águas de reuso, ou seja, aquela que se capta das chuvas e das torneiras de banho, cozinha, lavatórios comerciais etc. Ainda se dá a descarga das privadas utilizando-se água ‘potável’. O desperdício é clamoroso em si, e poder-se-ia ‘intermodalizar’ com recursos de energia solar, economizando ainda mais os recursos públicos. (https://revistapesquisa.fapesp.br/agua-reciclada/)

Geralmente, em campanhas políticas nos anos eleitorais surgem as propostas mirabolantes, de privatização, mais abertura e venda de capital nas bolsas (o que, de fato, já existe – a SABESP tem IPOS na Bolsa de valores de Nova Iorque com receita líquida em registrada em junho de 2022 de R$ 5,27 bi – com alta nas ações de 14,57%). https://site.sabesp.com.br/site/imprensa/noticias-detalhe.aspx?secaoId=65&id=8724 .Mas, temos sempre fortes investimentos em muita publicidade etc.

Pesquisa básica indica que a Sabesp que é uma cia. mista, há 20 anos operando na bolsa, portanto, não é exatamente uma estatal de São Paulo, já tem mais de 680 milhões de ações negociadas. (https://br.investing.com/equities/sabesp). Para onde vai tanto dinheiro?

Talvez, e mais acertado, seriam mais investimentos nas Universidades e departamentos de pesquisa, acompanhada de empresas interessadas (existem?) Além de políticas industriais, políticas públicas urgentes que mirem nas necessidades das cidades e das pessoas, incentivos e financiamentos, correta e devidamente endereçados e fiscalizadas, devessem se tornar as prioridades nestes discursos e nas práticas consequentes.

Tabela mostra que o entendimento sobre a vida repousa sobre ideias “simples” e míticas de Sustentabilidade. (Img. AEL)

Quem se importa com Saúde, Economia, Ecologia, por exemplo, deveria fazer muita pressão sobre os governantes e os representantes eleitos.

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Redação

ÆscolaLegal é um esforço coletivo de profissionais interessados em resgatar princípios básicos da Educação e traduzir informações sobre o universo multi e transdisciplinar que a envolve, com foco crescente em Educação 4.0 e além, Tecnologia/Inovação, Sustentabilidade, Ciências e Cultura Sistêmica. Publisher: Volmer Silva do Rêgo - MTb16640-85 SP - ABI 2264/SP