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Ontem Foi. Voltará?

“Porque antigamente…”, “hoje não pode nada”, onde o novo é chato só quando atrapalha o velho…Etarismo?

Patricia Punder

São Paulo, 21/07/2023

2,5 Minutos.

Tenho escutado de distintas pessoas e círculos sociais que o mundo ficou chato, não se pode falar mais nada devido a onda do “politicamente correto”. Há reclamações de todos os tipos, desde “agora existe censura em tudo” até “na minha época não era assim”. O saudosismo governa a mente de muitas pessoas como se naquela época talvez o mundo fosse melhor.

Quando criança lembro do chocolate em forma de cigarro, considerado trend para a criançada e orgulho para os pais que compravam. Hoje, apesar de não existir mais a fabricante, se algum pai ou mãe vissem uma criança com um chocolate assim quase teriam um ataque do coração.

[N.E.: Porque os pais também fumavam e não havia Ciência ou Medicina suficientemente forte para denunciar os malefícios do tabaco quimicamente reforçado como da marca Marlboro, por exemplo?!]

A língua portuguesa tem evoluído, basta buscar em um dicionário virtual que novas palavras foram introduzidas, o que é genial, pois reflete a criatividade do brasileiro em transmutar sentimentos e situações em palavras, palavras em inglês foram incluídas e fazem parte do cotidiano brasileiro, um exemplo são as placas de “sales”, e não “liquidação”.

A evolução da língua portuguesa é reflexo da evolução ou involução da sociedade, dependendo do ponto de vista de cada indivíduo. Com esse progresso social, temos novas tecnologias e novos comportamentos que fazem parte do nosso dia a dia e, fatalmente, impactam na nossa forma de se comunicar.

[N.E.: Do ponto de vista da língua, em um rio que corre sempre para o futuro, agregam-se a ele pedaços e galhos caídos diários; carregados acabam ‘ancorando’ n’alguma margem, e lá ficam presos. Nas cheias têm uma chance. Sejam eles da tecnologia, das modas, da riqueza ou da miséria humanas. As estruturas só findam com a humanidade, mas esta, diferentemente daquela cai como folhas secas todos os dias, e o tronco resiste.]

Participo do time que considera que o mundo não ficou chato, afinal, até quando vamos justificar a violência cultural, como expressões racistas, sexistas ou machistas, como algo “normal para aquela época” ou que foi apenas uma piada. Claro que o saudosismo de alguns vai se levantar contra a minha indignação. Afinal, os saudosistas têm orgulho de dizer que trabalhavam 14 ou 16 horas por dia e que isso era vestir a camisa da empresa ou, então, que reclamar de trabalhar longas horas é errado.

Ontem Foi. Voltará?
Aprender com o passado sim, mas opor-se aos seus erros. Sabedorias. (Img Web)

Sim, na época deles não se falava de assédio moral, nem de burnout, qualidade de vida ou de programas de Compliance.

As consequências para muitos saudosistas foi perder a infância de seus filhos, casamentos destruídos, infarto, AVC e podemos incluir uma cirurgia bariátrica com menos de 40 anos.

Todos queremos trabalhar, pagar nossas contas e viver com dignidade, mas isso não significa que não possamos ter mais vida. Produtividade não se mede com a quantidade de horas trabalhadas em frente a um notebook sentado em um escritório.

O ‘patrão’ quer enxergar todos trabalhando. Afinal, “o olhar do patrão é que faz a boiada engordar”, expressão horrível que ainda tem sido muito usada.

A juventude atual é folgada, dizem os saudosistas. Somente querem saber da vida fora do trabalho, não vestem a camisa da empresa e de forma chocante fazem perguntas, são questionadores. Como se questionar fosse um pecado mortal, aparentemente para os saudosistas sim.

Na linha da produção. Ontem. Amarrado em 2 polos

O choque de gerações sempre aconteceu. Imagino a cara dos meus avós quando minha mãe apareceu com seu primeiro jeans com boca de sino. Deve ter sido um pesadelo, a crise familiar instaurada! O que temos que ter é mais empatia e compreensão. Sim, a evolução vai continuar, e não são os mais fortes que sobrevivem, mas os mais adaptativos. Portanto, continuar a gritar que ‘o antes’ era melhor ficou chato.

Patricia Punder –  Advogada e  Professora de Compliance no pós-MBA da USFSCAR e LEC

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Redação

ÆscolaLegal é um esforço coletivo de profissionais interessados em resgatar princípios básicos da Educação e traduzir informações sobre o universo multi e transdisciplinar que a envolve, com foco crescente em Educação 4.0 e além, Tecnologia/Inovação, Sustentabilidade, Ciências e Cultura Sistêmica. Publisher: Volmer Silva do Rêgo - MTb16640-85 SP - ABI 2264/SP