Sustentabilidade

Educação para o Desenvolvimento Sustentável.

O Desenvolvimento Sustentável é composto por ações que fomentam o crescimento econômico eficiente, socialmente equitativo, ecologicamente preservado e culturalmente acessível.

Maria Lina Aguiar de Souza

São Paulo, 29/12 de 2020.

2 Minutos

Estabelecer a compreensão de Desenvolvimento Sustentável, para além de um mecanismo de pesquisa, é imprescindível para seu sucesso. E é neste contexto que se insere a Dimensão Cultural, como proposta de composição solidificadora e necessária.

A Cultura, neste trabalho, está mais relacionada a educação, que a diversidade das expressões sociais do conhecimento humano. Temos: A natureza humana não é dada ao homem, mas é por ele produzida sobre a base da natureza biofísica. Consequentemente, o trabalho educativo é o ato de produzir direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto de homens. (Saviani, 2013, p. 6)

Dimensão Cultural.

A Dimensão Cultural deve estar assim inserida dentro do contexto das ações humanas e formação da humanidade no indivíduo de forma intencional e direta. Partindo da proposta para nova definição de Desenvolvimento Sustentável, a acessibilidade ao patrimônio cultural é tão relevante e necessária como o seu próprio progresso.

Define-se por Desenvolvimento Sustentável, A Gestão das organizações, públicas e privadas e pelos cidadãos, como Agentes de Modificação com as dimensões Social e Econômica e sobre os Agentes Modificados com as Dimensões Meio Ambiente e Cultura, garantindo as melhores práticas sociais com base na solidariedade para a liberdade, dignidade e manutenção da vida, com percepção econômica de atuação sob a natureza para o alcance das necessidades humanas objetivando a inalterabilidade do meio ambiente, com garantia ao progresso e acessibilidade do patrimônio cultural, desenvolvido e a desenvolver-se, material e imaterial, em articulação simultânea por meio de ações positivadas para manutenção da vida humana e individualidade do ente social no planeta preservando o futuro das gerações que seguirão. (Em construção).

A acessibilidade ao patrimônio cultural se conquista por meio da educação que deve ser entendida como ação coletiva de construção de múltiplos conhecimentos, um processo e trabalho, de direito de todos.

Entender a educação é conhecer o processo de sua constituição ao longo de uma contínua luta de interesses, no interior dos grupos humanos, frente à natureza e entre as culturas que vão se estabelecendo em função da diversidade humana. Nesta perspectiva, a educação não é mais que uma forma de trabalho que reproduz o mundo humano e desenvolve a tecnologia necessária para viver. (FERREIRA, SIRINO e MOTA, 2019)

Este direito é o primeiro a ser garantido na Constituição Brasileira de 1988 como direito social, em seu artigo 6º, “São direitos sociais a educação (…).” Direitos sociais não são apenas direitos de agir, mas direitos de exigir do Estado Democrático a atuação para a manutenção dos direitos fundamentais, principalmente aos hipossuficientes.

Educação.

A LDBLei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996), dispõe que a educação é um dever da família e do Estado, e que esta inspira os princípios de liberdade e solidariedade, dentro de um contexto cultural.

I – Estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo;

IV – Promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação;

V – Suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar a correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada geração;

VI – Estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade (Artigo 43).

A educação formal que se espera que o indivíduo desenvolva seu princípio de liberdade, mesmo que não se sinta livre pois é este princípio que o liberta da opressão que se encontra, e solidariedade, base fundamental das relações sociais, é compartilhado pelo Profª. Anastasiou ao referir sobre a educação dialética para os professores:

Quando o estudante se confronta com um tópico de estudo, o professor pode esperar que ele apresente, a respeito do mesmo, apenas uma visão inicial, caótica, não elaborada ou sincrética, e que se encontra em níveis diferenciados entre os alunos. Com a vivência de sistemáticos processos de análise a respeito do objeto de estudo, passa a reconstruir essa visão inicial, que é superada por uma nova visão, ou seja, uma síntese.

A síntese, embora seja qualitativamente superior à visão sincrética inicial, é sempre provisória, pois o pensamento está em constante movimento e, consequentemente, em constante alteração. Quanto mais situações de análises forem experiências, maiores chances o aluno terá de construir sínteses mais elaboradas. O caminho da síncrese para a síntese, qualitativamente superior, via análise, é operacionalizado nas diferentes estratégias que o professor organiza, visando sistematizar o saber escolar.

É um caminho que se processa no pensamento e pelo pensamento do aluno, sob a orientação e acompanhamento do professor, possibilitando o concreto pensado. (ANASTASIOU, 2005, p. 09).

Não há que menosprezar o saber popular que é passado pelas gerações por meio da oralidade sistêmica. Na verdade, todo o conhecimento empírico e cartesiano advém das experiencias e percepções das relações, individuais e com o mundo, em tempos idos. Nesta defesa, tratamos a educação como direito social viabilizador dos Princípios Humanos Fundamentais. Assim, aqui consideramos o processo de construção do saber como Barbosa-Lima, M. C. et al, nos apresenta:

Educar: …  Do Latim educare, que é uma forma derivada de educere que contém a ideia de conduzir. Da mesma raiz, nascem: produzir, seduzir, deduzir, induzir, traduzir e outras. A palavra educar representa uma práxis em que se focalizam, enfaticamente, a finalidade e os objetivos do processo pedagógico…

Educação e Dimensão Cultural.

Ao vincularmos intimamente e indissociavelmente a educação como ação ou processo de construção à Dimensão Cultural, culminamos com a compreensão de cultura, e adotamos a definida pelo Prof. Alfredo Bosi, crítico e historiador da literatura brasileira, ocupa a cadeira 12º da Academia Brasileira de Letras. Ele é tão preciso em sua abordagem que não nos cabe acrescentar, destacar ou interpretar. O seu artigo, A Origem da Palavra Cultura (2008) traduz esta dimensão:

Uma definição da cultura hoje em dia se tornou particularmente difícil, porque a cultura pode ser estudada de vários pontos de vista e precisaríamos escolher uma perspectiva para poder defini-la.

Como professor de língua portuguesa e pessoa que sempre se dedicou ao estudo do que se chama de Humanidades, eu gostaria de remontar ao primeiro significado da palavra cultura na tradição romana. A palavra cultura é latina e sua origem é o verbo colo. Colo significava, na língua romana mais antiga, “eu cultivo”; particularmente, “eu cultivo solo” (…).

Era um modo verbal que tinha sempre alguma relação com o futuro; tanto que a própria palavra tem essa terminação –ura, que é uma desinência de futuro, daquilo que vai acontecer, da aventura. As palavras terminadas em –uro e –ura são formas verbais que indicam projeto, indicam algo que vai acontecer. Então a cultura seria, basicamente, o campo que ia ser arado, na perspectiva de quem vai trabalhar a terra.

Esse significado material da palavra, relacionado com a sociedade agrária, durou séculos; até que os romanos conquistaram a Grécia e foram em parte helenizados. Nós sabemos a extrema importância da cultura grega, da arte e da filosofia grega para o desenvolvimento da cultura romana. E os gregos tinham já uma palavra para o desenvolvimento humano, que era paideia.

Paideia significava o conjunto de conhecimentos que se devia transmitir às crianças – paidós (criança é paidós) – daí Pedagogia, que é a maneira de levar a criança ao conhecimento. Dessa raiz é que se criou paideia, que por volta do primeiro século antes de Cristo, o momento forte da helenização de Roma, passou para o Império Romano e carecia de uma tradução em latim.

Os romanos sabiam o que era paidéia, pois os seus pedagogos eram escravos gregos que iam para a Itália; alguns contratados e outros como escravos deveriam trabalhar para os seus donos e tinham a função de ensinar grego e retórica para os meninos das famílias patrícias.

Nessa altura, a Grécia também exercia a função de “emprestar” palavras; começava-se a usar palavras gregas freqüentemente entre os romanos. Só que, por outro lado, o nacionalismo romano também exigia que se traduzissem os termos gregos. E qual era o paralelo que eles podiam fazer? Os romanos não tinham nenhum termo que significasse “conjunto de conhecimentos que deveriam ser transmitidos à criança”.

Mas, conhecendo a palavra paideia e não querendo usá-la porque era uma palavra estrangeira, passaram a traduzi-la por cultura. A palavra cultura passou do significado puramente material que tinha em relação à vida agrária para um significado intelectual, moral, que significa conjunto de idéias e valores.

E é tardio isso, só a partir do primeiro século é que se encontram exemplos da palavra nessa acepção; se a gente for aos dicionários de latim compilados depois da época imperial, encontramos cultura sempre definida em primeiro lugar como o amanho do solo, o trabalho sobre o solo, ligado sempre ao verbo colo e seus derivados, por exemplo: in-cola – aquele que mora num certo lugar; inquilino – aquele que mora num lugar que não é seu; colônia – lugar para onde se deslocam trabalhadores que vão arar em outras terras.

Culto vem do particípio passado de colo (colo é o verbo, que tem um particípio passado: cultus), é aquilo que já foi trabalhado. Depois, passou a ter um significado espiritual-religioso. Aliás, entre parênteses, nós não sabemos se o significado religioso foi anterior ou posterior ao significado material. Agora, cultura certamente sabemos que passou de um significado material para um significado ideal e intelectual.

Essas observações que estou fazendo, etimológicas, poderão nos servir como um fio em nosso discurso, porque ambos os significados sobreviveram nas línguas modernas. Podemos falar na cultura do arroz, na cultura da soja, na cultura do trigo, entendemos muito bem que é uma terra cultivada; falamos em cultivo (palavra também derivada de colo) e mais ainda, com frequência, usamos a palavra cultura na acepção ideal, que é muito rica, porque traz dentro de si, na forma verbal terminada em -ura, a ideia de futuro, de projeto.

Se tivéssemos que definir a palavra a partir dessas considerações, teríamos uma riqueza de possibilidades, porque a cultura, pensada como um conjunto de ideias, valores e conhecimentos, traz dentro de si, em primeiro lugar, a dimensão do passado. Muitos conhecimentos foram herdados de outras gerações, não estamos começando do zero, muito pelo contrário, cada ano que passa acumula mais conhecimento. Cada vez mais a dimensão cumulativa, a dimensão de passado, se impõe (…).

Sem dúvida nenhuma, a primeira ideia que temos quando falamos em cultura é a de transmissão de conhecimentos e valores de uma geração para outra, de uma instituição para outra, de um país para outro; subsiste sempre a ideia de algo que já foi estabelecido em um passado – que pode ser um passado próximo ou um passado remoto.

Evidentemente, nossa cultura tecnológica tem proximidade com a Revolução Industrial e com tudo o que veio depois, ao passo que a cultura humanística deve remontar aos gregos e aos romanos, há 2.000 ou 3.000 anos atrás. Não importa: seja um passado recente, séculos XIX e XX, seja um passado remoto (antes de Cristo, ou épocas arcaicas), sempre a palavra cultura carrega dentro de si a ideia de transmissão de ideias e valores (…)

No mundo contemporâneo, ao contrário, cada vez menos nos atemos à fixidez das fórmulas e cada vez mais (como a cultura é um complexo de conhecimentos científicos, técnicos etc., e não só históricos) nos preocupamos em criar projetos de cultura; e cada vez mais, além desta criação, os nossos ideais democráticos exigem uma socialização do conhecimento. Não só cavar na matéria em si da cultura, mas também estendê-la na linha da comunicação, na linha da socialização; e fazer com que este bem seja repartido, distribuído, da maneira mais justa e mais ampla possível, o que é próprio da sociedade democrática.” – Alfredo Bosi (2008, grifo nosso).

Conclusão.

Concluímos por este breve, mas não sucinta apresentação, a necessária relação da educação com o Desenvolvimento Sustentável por meio da Dimensão Cultural. Muito tem-se a dizer sobre o assunto, e será dito. Contudo, para o momento resta-nos compreender que para que haja verdadeiramente um Desenvolvimento Sustentável, há que inserir a Dimensão Cultural, com aspecto educador para o ente social, como direito fundamental garantido por lei, exercício de humanidade pelo acesso e solidariedade na equidade da educação de qualidade a todos, sem distinção.

Maria Lina Aguiar de Souza – Pesquisadora em Desenvolvimento Sustentável e Gestão Pública.

Bibliografia.

ASTASIOU,L.G.C. Metodologia do Ensino Superior: da prática docente a uma possível teoria pedagógica. IBPEX, Curitiba, 1998.

Bosi, A., consultado em 29 de dezembro de 2020, 12:42 em: https://pandugiha.wordpress.com/2008/11/24/alfredo-bosi-a-origem-da-palavra-cultura/.

BARBOSA-LIMA, M. C. et al., Ensinar, formar, educar e instruir: a linguagem da crise escolar, Ciência E Educação, v. 12, n. 2, p. 235-245, 2006.

FERREIRA FILHO, M. G. Direitos Humanos Fundamentais. 11ª ed. Rev. E aum. – São Paulo: Saraiva, 2009, p. 50.

FERREIRA, A.V., SIRINO, M.B., MOTA, P.F. (Organiz.), Construção Teórica no Campo da Pedagogia e Educação Social, Jundiaí, Paco Editorial, 2019.

MARTINS, E. S., A etimologia de alguns vocábulos referentes à educação, Olhares & TrilhaS, Uberlândia, Ano VI, n. 6, p. 31-36, 2005.


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Redação

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