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3 Possíveis Compostos antiCovid19

Depois de testarem 500 fármacos, pesquisadores da USP e parceiros alemães identificaram 3 compostos polifenois capazes de inibir a ação da proteína do vírus.

Agência FAPESP

São Paulo, 28/10/2022

2  Minutos.

O laboratório Unit for Drug Discovery do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), em parceria com pesquisadores da Universidade de Hamburgo e do Deutsches Elektronen-Synchrotron (DESY), ambos da Alemanha, identificaram três possíveis compostos para o tratamento da COVID-19.

Ou seja, são compostos naturais selecionados em uma triagem com 500 fármacos, que se mostraram promissores em inibir a proteína PLpro – uma das enzimas responsáveis pela proliferação do SARS-CoV-2. Todos os três compostos, 4-(2-hidroxietil)fenol (YRL), 4-hidroxibenzaldeído (HBA) e metil 3,4-dihidroxibenzoato (HE9) são derivados do fenol e classificados como polifenóis¹, uma classe de compostos bioativos presentes em plantas.

De acordo0 com a matéria publicada na revista Communications Biology, a pesquisa mostrou que os compostos inibem entre 50% e 70% a ação dessa enzima. Os testes foram feitos em células Vero (linhagem oriunda de rim de macaco) e comparados com um grupo de células que não recebeu os compostos. A linhagem Vero possui similaridades com a célula humana e é muito usada como modelo experimental nesse tipo de estudo.

“Assim, ao inserirmos os compostos nas células infectadas, constatamos que eles impediram a replicação do coronavírus ao atingir a PLpro, que tem a capacidade de inativar as células do sistema imunológico, podendo levar a casos graves da doença. Como um percentual considerável dos vírus não conseguiu se replicar, as partículas virais infecciosas foram eliminadas”, explica Edmarcia Elisa de Souza, pós-doutoranda do ICB-USP

3 Possíveis Compostos antiCovid19
Alimentos ricos em polifenois – Põe na mesa, todos os dias. (Img Web)

“Desta forma, vale ressaltar que os compostos não apresentaram toxicidade. Ou seja, não houve dano à integridade das células, principalmente nas concentrações baixas em que os compostos apresentaram atividade antiviral”, complementa.

Novo alvo terapêutico

Portanto, a descoberta desse alvo terapêutico é muito relevante, porque trata-se de uma alternativa ao que vem sendo feito na ciência. “Na literatura existe pouca coisa sobre a PLpro, então todo novo conhecimento sobre ela é importante.

Então, saber que é possível inibir a replicação do SARS-CoV-2 por meio dessa proteína é uma grande descoberta, pois a maioria dos estudos para tratamentos da COVID-19 tem como alvo as proteínas Spike e 3CL  (noutro estudo). Conseguimos mostrar que existem mais opções, caso esses estudos não avancem”, reforça Souza, que tem bolsa de pós-doutorado da FAPESP.

O próximo passo é fazer testes em modelos animais para avaliar melhor a eficácia dos três compostos. Caso sejam bem-sucedidos, será possível avançar para os testes clínicos. “Os compostos foram isolados da natureza, não há nenhum registro sobre a utilização deles a não ser em pesquisas primárias e a eficácia verificada abre a possibilidade para novas terapias”, afirma.

O líder das pesquisas no Brasil é o professor Carsten Wrenger, que recebe apoio da FAPESP para o projeto Dissecação estrutural de nanopartículas assistidas e entrega de medicamentos nas doenças infecciosas humanas.

Seleção de compostos

No total, foram avaliados seis compostos selecionados pela equipe de pesquisadores da Alemanha. “Nossos colaboradores observaram o grau de interação entre os compostos e a PLpro. Isso foi feito por meio de cristalografia de raios X, um método inovador e ainda pouco difundido”, informa Souza.

A cristalografia permite fundir o composto à proteína e observar se pequenos cristais foram produzidos nessa união. Cristais esses que não poderiam ser vistos à luz dos microscópios tradicionais. “Analisando os cristais, conseguimos produzir modelos tridimensionais das estruturas para identificar se elas se ligam e onde isso acontece. Quanto mais pontos de ligação entre elas, maior a afinidade”, explica o professor Christian Betzel, líder do estudo na Universidade de Hamburgo (Alemanha) e professor visitante do ICB-USP.

A eficácia dos três compostos contra o SARS-CoV-2 foi posteriormente analisada em células Vero infectadas no BSL3 Cell Culture Facility for Vector and Animal Research, do Departamento de Parasitologia do ICB-USP. Trata-se de um laboratório de nível 3 de biossegurança (NB3), que confere proteção aos pesquisadores que trabalham com o cultivo de microrganismos patogênicos.

O artigo pode ser lido aqui.

Assessoria de Comunicação do ICB-USP.

Tabela – Principais alimentos com polifenóis¹

Esta tabela inclui os tipos mais comuns de polifenóis e em que alimentos estão presentes:

Tipos de polifenóis
Flavonoides Alimentos ricos e plantas
Flavonóis Açafrão, orégano seco, cebola roxa crua, espinafre
Flavonas Folhas frescas de aipo, hortelã seca, verbena, orégano seco
Isoflavonas de soja Farinha de soja, tempe, leite de soja, iogurte de soja
Flavanonas Hortelã seca, orégano seco, suco de laranja, alecrim fresco, toranja
Antocianinas Amoras, mirtilos, sabugueiro, salsaparrilha preta
Flavanóis Cacau em pó, chocolate amargo, chá preto, chá verde, edamame, morangos, pêssego, maçã
Ácidos fenólicos Alimentos ricos e plantas
Ácido benzoico (gálico e elágico) Framboesas, mirtilos, romã e nozes
Ácido cinâmico (cumárico, cafeico, ferúlico e sinapínico) Café, maçã, pera, alcachofra, frutos vermelhos, vinho, amendoim, cenoura, tomate, canela e alho
Curcumina Cúrcuma
Lignanos Linhaça, sementes de gergelim e abóbora, feijão, soja, brócolis
Estilbeno (resveratrol) Vinho tinto, suco de uva natural e cacau em pó
Amidas polifenólicas (capsaicinoides e avenantramidas) Pimenta e aveia
Gingerol e Shogaol Gengibre
Outros alimentos: feijão preto e branco, limão, avelã, amêndoa, azeite, azeitona, aspargos, alface roxa, ameixa, grãos inteiros, centeio, tomilho, entre outros.

É importante incluir estes alimentos numa dieta variada e balanceada para obter todos seus benefícios.
(Fonte: https://www.tuasaude.com/polifenois/)

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Redação

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