Ensino

CRIANÇAS ATIVAS ADULTOS SAUDÁVEIS

Jair Rodrigues Garcia Jr.

São Paulo, 23/12 de 2020.

2 Minutos

Crianças com sobrepeso e obesas são figuras comuns na socie­dade e representam, em média, 30% dos estudantes nas escolas públi­cas e privadas . Essa condição já é um sério problema de saúde pública, pois atinge todas as camadas sociais da população brasileira. Não bastando o problema imediato, ainda se config­ura num problema mais sério para o futuro, na vida adulta do indivíduo.

Estudos sobre obesidade familiar concluíram que os fatores genéticos são importantes na determinação da obesidade. A criança descendente de um pai/mãe obeso(a) corre o risco de aproximadamente 40% de se tornar obesa, enquanto para a criança que tem ambos os pais obesos, o risco aumenta para 80%.

E a influência dos pais vai além, pois quando ambos apreciam pratos fartos, gordurosos e ricos em açúcar, acabam transmitindo suas preferências alimentares ao seu filho.

As causas iniciais do sobrepeso e da obesidade infantil podem ser duas: 1º) falta de informação e educação inade­quada, pois ambos os pais podem não possuir as informações necessárias para correção dos hábitos dos filhos e/ou 2º) negligência em atribuir a devida importância e adotar os hábitos saudáveis que podem evitar o sobrepeso e uma série de doenças.

O sobrepeso e a obesidade infantil resultam principalmente de hábitos errados de alimentação e falta de ativ­idade física. Em muitas famílias houve redução da ingestão de alimentos pre­parados em casa, que foram sendo substituídos por alimentos indus­trializados ultraprocessados como salgadinhos, refrigerantes, doces e fast-foods consumidos fora de casa.

Tabela de gastos e consumos energéticos diários.

Na própria escola, nas can­tinas, não se prioriza o valor nutri­tivo dos alimentos, mas sim o paladar e a preferência dos estudantes, por isso são ricos em açúcar, gorduras, sal e bastante calóricos. Um problema adicional é o tamanho das porções, cada vez mais generosas por preços convidativos.

Movimento essencial

Em paralelo, é cada vez maior a pre­valência do sedentarismo entre as crianças e adolescentes.

Em alguns municípios já pesquisados, o seden­tarismo atinge cerca de 90% das cri­anças e dos adolescentes entre 7 e 17 anos.

Em média, o sedentarismo atinge entre 40% e 60% das crianças e dos adolescentes em geral, o que cer­tamente contribui para a crescente prevalência de sobrepeso nessa pop­ulação.

Há estudos que relacionam o tempo dedicado ao celular, videogame, com­putador e à televisão, com a pre­valência do sobrepeso entre crian­ças. Entre crianças que usam disposi­tivos eletrônicos até 1h/dia a taxa de sobrepeso é de 10%. Quando o tempo é de até 3h/dia a taxa aumenta para 20%, até 4h/dia aumenta para 27% e até 5h/dia aumenta para 35% a taxa de sobrepeso.

A criança, adolescente ou adulto são considerados sedentários quando não praticam uma atividade física regular com duração de 20-30 minutos e frequência mínima de 3 vezes por semana.

É o mínimo dentro do que preconiza o American College of Sports Medicine (ACSM) para toda a população, ou seja, se engajar em uma rotina regular de exercí­cios com duração de 20-60 minutos, realizados de 3 a 5 dias por semana. Entre os exercícios devem estar incluídos os aeróbicos (caminhada, corrida, natação, bicicleta, dança etc.), os de resistência (funcional, musculação, CrossFit etc.) e de flexibilidade (alonga­mento, Pilates etc.).

Tal rotina de exer­cícios auxilia na perda e manutenção do peso, pois aumenta o gasto de energia, reduz o apetite, aumenta a taxa metabólica de repouso, aumenta a massa muscular, eleva o consumo de oxigênio, aumenta do efeito térmico da refeição (gasto extra de energia após as refeições), aumenta a mobili­zação (quebra) e utilização de gordura nos músculos e proporciona a sensa­ção de autoconfiança e bem estar.

A partir da década de 80 surgiu o con­ceito de “aptidão física relacionada com a saúde”, cuja denominação mais atual é “condicionamento físico pre­ventivo” (em alusão à Medicina preven­tiva), que vai muito além dos efeitos saudáveis e imediatos da rotina de exercícios.  

Esse conceito está rela­cionado com a capacidade de realizar as tarefas diárias com vigor e demon­strar características de baixo risco para o desenvolvimento prematuro de doenças hipocinéticas (da falta de movimento – sedentarismo).

Portanto, as implicações são imedia­tas, de médio e de longo prazo, pois, mesmo na senescência (idosos), o indivíduo que sempre foi fisicamente ativo manterá suas capacidades fun­cionais, isto é, para as tarefas diárias, e estará menos propenso a sofrer de doenças crônicas, tais como obesi­dade, diabetes, hipertensão arterial, câncer e cardiovasculares.

Atividades físicas nas escolas – fundamental (Foto: unsplash)
Qual o papel dos pais e da escola?

Deve haver mudança de comporta­mento de toda família, especialmente dos pais, pois as crianças aprendem muito por imitação e se espe­lham nos adultos que têm como prin­cipal referência.

Cabe aos pais dar o exemplo tendo hábitos alimentares saudáveis, sendo fisicamente ativos e mantendo os filhos motivados a permanecerem ativos durante alguns períodos do dia todos os dias. As cri­anças que são ativas desde cedo têm maior probabilidade de permane­cerem ativas quando adultas.

Cabe também aos pais incentivar a prática regular de atividades físicas nas aulas de Educação Física escolar, em escolinhas de esportes, em clubes, praças e outros locais. A Educação Física transita nas áreas de educação e saúde e, suas aulas exigem dos siste­mas muscular, cardiovascular e res­piratório, para que se adaptem aos esforços moderados e mais inten­sos e prolongados ou intermitentes.

Também têm o papel de conscientizar o aluno sobre a importância da prática regular de atividade física por toda a vida. Não apenas para prevenção da obesidade, como também que propor­cionem prazer, bem-estar, motivação, autoconfiança e melhor desempenho nas demais disciplinas.

Assim, a escola cumpre seu papel de educar no sentido mais amplo, com as aulas de Educação Física sendo o momento para estabelecer a relação entre a prática de atividade física, a alimentação adequada e a saúde. É preciso apenas a exigência e valori­zação de profissionais competentes que não se preocupem apenas com conteúdo esportivo, mais valori­zem aspectos como a incorporação da prática regular de atividade física também fora da escola, ensinando ao aluno sobre como fazer uma ativ­idade, com que frequência, intensi­dade e melhor local.

Que trabalhe com práticas que desenvolvam simultanea­mente a capacidade de raciocínio e hábitos saudáveis, podendo então prevenir a obesidade e doenças associadas.

Jair Rodrigues Garcia Júnior – Doutor em Fisiologia Humana pela USP.
Professor do Curso de Educação Física da UNOESTE



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Redação

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