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Abelhas e os Saberes Agroecológicos

Agroecologia é compreendida como práticas sustentáveis na agricultura, as quais incorporam e valorizam vários eixos das questões sociais como as questões culturais, políticas, ambientais, energéticas e éticas, com inclusão da Agricultura Familiar e Empoderamento Feminino.

Gleycon Silva e Tatiana de Oliveira Ramos

Belo Horizonte, 24/09 de 2021.

1 Minuto

A Agroecologia consiste na valoração cultural local, onde estes são transmitidos de pais para filhos durante várias gerações. Há quatro eixos principais que a Agroecologia aborda:

Ambiental: Sustentabilidade, ecologia local, independência local e aumento da biodiversidade;

Cultural e Social: Alimentos e técnicas nativas, valoração da cultura local e dos conhecimentos ancestrais;

Econômico: Geração de renda e desenvolvimento regional; e

Político: Políticas públicas, serviços, leis regulamentadoras, financiamentos e reforma agrária;

A Agroecologia vai além de suas técnicas sustentáveis de produção de alimento. Ela aproxima o homem de tudo que existe, o faz refletir sobre sua existência. Ela é uma Filosofia de vida com potencial para a preservação e conservação de nosso Planeta, através da transformação de comportamento das pessoas em relação a todas as formas de vida!

Em relação a produção convencional de alimentos, a Agroecologia possui grandes vantagens, podendo destacar a produção sustentável de alimentos, trabalho justo a todos os envolvidos na cadeia produtiva desses alimentos, conservação do solo e da água, erradicação do uso de agrotóxicos e não utilização de transgênicos.

Isso beneficia diretamente diversos setores das nossas vidas assim como tudo que existe na Natureza, como as florestas, alimentação saudável, saúde pública, valoração da cultura local e regional, lazer, artesanato, indústria caseira, inclusão social, geração de renda local e regional, segurança alimentar, desenvolvimento sustentável, amor, agricultura familiar e tecnologia limpa.

É importante ressaltar que há um Ciclo Construtivo da Agroecologia, o qual muitas pessoas desconhecem. Na figura abaixo podemos observar como esse Ciclo é composto.

Organograma das relações entre abelhas, mulheres e ciclos econômicos
Figura 1: Ciclo Construtivo da Agroecologia.
Fonte: PORTAL AGROECOLOGIA, 2012. Inter-relatividade entre processos naturais e humanos. (Img. Cedida pelos autores)

Alinhadas a todas essas questões já mencionadas anteriormente, há a Meliponicultura, a qual pode ser introduzida em um cultivo sustentável e potencializar a produção de alimentos, e ainda por cima beneficiar a conservação das abelhas nativas sem ferrão! Mas, o que é Meliponicultura?

A Meliponicultura é a atividade de criação de Meliponíneos, popularmente conhecidas como abelhas sem ferrão, especialmente dos gêneros Melipona e Trigona (tribos Meliponini e Trigonini). As colmeias são organizadas em meliponários e já é praticada há muito tempo pelos povos nativos da América Latina.

Os primeiros registros históricos da criação de Meliponíneos são dos antigos Maias, na península do Yucatan – México, que criavam a Melipona beecheii, conhecida por eles como Xunan-kab (senhorita real). Para os Mayas as abelhas eram a ponte entre o mundo físico com o espiritual, a qual os ligavam com o deus Ah Muzen Cab.

Deus Maya, abelhas e suas relações com a Natureza
Figura 2: Na cultura Maia o deus Ah Muzen Cab era um dos mais reverenciados.Fonte:https://meliponariodamadecopas.blogspot.com/2014/11/curso-historia-da-meliponicultura.html – Na Mitologia Maya abelhas e deuses eram interligados

Como dito, na criação de meliponídeos há dois gêneros de abelhas que se destacam, Melipona e Trigona. Melipona são abelhas grandes, podendo atingir até um centímetro e meio de comprimento. As abelhas deste gênero costumam fazer a entrada de seus ninhos usando barro e própolis.

Trigona são abelhas pequenas como abelhas jataí, irapuá, lambe-olhos, enrola-cabelo, mosquito e canudo. Estas abelhas costumam fazer a entrada de seus ninhos em formato de tubo e é construída com cera.

Dentre as abelhas, estima-se que os meliponíneos são os principais responsáveis pela polinização de plantas nativas do Brasil. As abelhas sem ferrão são importantes na reconstituição de florestas tropicais e conservação dos remanescentes, e ainda podem atuar como bioindicadores da qualidade ambiental.

O risco da ignorância pode ser a morte. No menor elo a potência de toda corrente

As abelhas são responsáveis por até 80% da polinização nos cultivos agrícolas. Ou seja, de cada 10 plantas que usamos como alimentos, oito são beneficiadas com a ocorrência de abelhas em sua floração.

Dos alimentos que chegam aos lares de milhões de pessoas em todo o planeta, cerca de 80% são oriundos da agricultura familiar. O trabalho destas famílias têm diminuído a desigualdade de gênero e ainda por cima tem aumentado a produção de alimentos e reduzido o desmatamento e a fome nos países pobres.

Diante isso, notamos que alinhar a Agroecologia com a Meliponicultura nos acarreta diversos benefícios como a sustentabilidade no campo, preservação e conservação das abelhas nativas, a conservação de recursos naturais que são essenciais para a vida de todos no planeta, o aumento da nutrição e saúde coletiva, integra diferentes tipos de conhecimento (cultural e técnico-científico), produz alimentos com alto valor nutritivo gastando menos recursos, possibilita uma diversidade maior de produção de alimentos, melhora a resiliência e permanência de pequenos agricultores no campo.

Além disso, sabemos que há o risco das abelhas sumirem do planeta e que a diversidade de alimentos têm diminuído no mundo. Desta forma, alinhar Agroecologia com Meliponicultura, é uma forma de beneficiar as abelhas assim como o homem, afinal teremos alimentos diversos e saudáveis, assim como poderemos contribuir para que nossas lindas e queridas abelhas não sejam extintas. Essa junção beneficia diretamente as abelhas assim como a produção de alimentos e geração de renda.

 

Gleycon Silva – Gestor Ambiental – Doutorando em Ecologia – INPA

Tatiana de Oliveira Ramos – Bióloga – Doutora em Entomologia Agrícola pela UNESP

 

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Redação

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