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VACINAS, RESGATES OPORTUNOS e atuais

No próximo sábado dia 31 de outubro, se comemoram 116 anos de publicação do Decreto Lei 1.261 que instituiu a obrigatoriedade para a vacinação dos maiores de seis meses contra a varíola.

Redação

São Paulo, 25/10 de 2020

1 Minuto

Eram os anos 1903 – 1904 , e o então presidente da república, cuja sede estava no RJ, a Capital do Brasil era Rodrigues Alves. Um grande fazendeiro e latifundiário paulista, plantador de café que queria liberar a região da cidade carioca dos negros, judeus e imigrantes pobres trabalhadores das grandes lavouras cafeeiras do Sudeste (São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro).

Porém, com o “abolimento da escravação” ou “abolitura do escravimento” um enorme contingente abandonado à própria sorte retornava para a capital, em expressiva quantidade de indigentes atrás de empregos (principalmente negros, já que italianos, por exemplo, além de outras nacionalidades, eram menos discriminados pela cor da pele).

O grande número de pobres, desempregados e arrivistas gerou uma espécie de economia paralela (como vemos hoje em todas as capitais) problemática, já que não pagavam impostos (nem tinham como!). Mendigos, bêbados, prostitutas, ‘inválidos’, se aglomeravam em cortiços, barracos e casas velhas, nas ruas e nas regiões próximas ao centro.

Tudo isso no momento que em que a primeira revolução industrial procurava expandir seus negócios e a Feira Internacional Mundial (uma espécie de Expo Inc.) se aproximava e, em atenção aos interesse internacionais e do governo brasileiro, uma parte dela seria trazida para o Brasil, desde que o país oferecesse as condições necessárias e suficientes para o evento. Era o futuro!

Isso significava, em miúdos, cuidado com a saúde dos visitantes e expositores. A França tinha enorme interesse em trazer para cá seus produtos, máquinas, ferrovias, frutos da indústria de transformação da matéria prima, movidas a vapor, e energia e luz elétrica implantada em 1904 na capital.

A Inglaterra também estava de olho. De fato, a Europa precisava desaguar e expandir a sua indústria. O local escolhido: a capital da república do Brasil, no Rio de Janeiro. Era perfeito para desaguar parte dos produtos industrializados, afinal o país teve um razoável crescimento populacional e esperava-se que com a libertação os escravos pudessem trabalhar e consumir as ofertas do mercado.

Claro que europeus bem informados sabiam que isso não era verdade, tampouco possível à época! Mas, o interesse e as possibilidades de fechar bons negócios com as elites cafeeiras e políticas do país eram amplamente favoráveis.

Duas numa só!

Contudo, numa cidade cheia de miseráveis e pobreza, com baixa urbanização e tratamento de esgotos (nada atual, claro!), um surto inicial de uma doença perigosa e fatal começou a ganhar vulto. Para poder realizar a feira Rodrigues Alves e seus engenheiros urbanistas tiveram uma ideia no mínimo infeliz – destruir um bairro inteiro para reconstruir a região do porto, próxima do centro, onde ocorreria a feira.

Ao mesmo tempo o presidente chamou seu “secretário” de saúde e mandou-o iniciar o combate a doença. O secretário convidou o sanitarista e infectologista Oswaldo Cruz, pesquisador de soluções contra a febre amarela e malária.

O então prefeito da capital com apoio do presidente botou as forças militares locais e o exército para ajudar no combate a doença, ao mesmo tempo em que começava a expulsar os moradores da região.

Muitos se revoltaram. Eles não tinham para onde ir, viviam ali há décadas. E também viam a vacinação em massa como um pretexto para tiranizá-los. Foram agredidos pelas forças militares, entram em conflitos, e depois de muitos feridos e alguns mortos, cederam. Expulsos foram se refugiar nos morros próximos, formando as favelas e as comunidades que conhecemos hoje.

A feira foi inaugurada e para poder passar nas ruas as pessoas deveriam, no mínimo usar botas e polainas, luvas, fraques e cartolas, e as mulheres vestidos, sombrinhas, chapéus, luvas e tudo o que a moda parisiense impunha como “très chic”. Quem não estivesse vestido de acordo (talvez devesse estar vacinado também) era imediatamente detido e conduzido para longe.

Discriminação, preconceito e abandononovidades? Sobre vacinas, resgates oportunos e atuais

A industrialização brasileira teve uma de suas principais sementes ali (os fazendeiros inauguravam ferrovias para transporte de café e outras mercadorias em absoluta dependência das fábricas francesas e inglesas, líderes na expansão da época e que se instalaram e atraíam milhares de desempregados. Mas, ela jamais chegou a se desenvolver em nível nacional, graças ao surgimento da ‘política do café com leite.

O salário mínimo já era ridículo, mas cada trabalhador nas fábricas de São Paulo, por exemplo, tinham direito a receber 2 litros de café para beberem durante o turno diário, e claro, ficarem superestimulados a trabalharem e produzirem mais, até por 16 horas ininterruptas de trabalho.

Claro que sua vida útil era reduzida, mas tudo bem! Nas proximidades das fábricas havia um exército constante e renovável de mão-de-obra, esperando ansiosamente na fila do lado de fora de cada uma. São Paulo ficou rica assim! Londres e Paris também.

No Rio de Janeiro tem um local chamado Valongo que é um cemitério popular, perto do porto, só para negros, escravos, pobres etc…

Quem tem um trabalho excelente sobre isso é o falecido historiador e professor da USP de origem ucraniana Nicolau Sevcenko (autor de A Revolta da Vacina e de outro livro que recomendo: A corrida para o Século XXI – os dois são muito esclarecedores). Qualquer coincidência com a atual Revolução Industrial 4.0 e o surto da atual pandemia Covid19 é mera constatação histórica…

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ÆscolaLegal é um esforço coletivo de profissionais interessados em resgatar princípios básicos da Educação e traduzir informações sobre o universo multi e transdisciplinar que a envolve, com foco crescente em Educação 4.0 e além, Tecnologia/Inovação, Sustentabilidade, Ciências e Cultura Sistêmica. Publisher: Volmer Silva do Rêgo - MTb16640-85 SP - ABI 2264/SP

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