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Vulnerabilidade Enquanto Dimensão Social

Pobreza não pode ser definida de forma única. Ausência de redes de esgoto, saúde, educação, alimentação, moradia e cidadania estão na base da realidade de vulnerabilidade enquanto dimensão Social.

Katilly D. Farias Gomes

Campo Grande, MS – 27/10/2021.

2 Minutos

A falta de acesso à escolarização é um dos fatores de vulnerabilidade, e é comum que adolescentes inseridos neste contexto tenham a necessidade de abandonar a escola para que possam se inserir no mercado de trabalho, se encontrem em condições de vida muito precárias e o único meio de sobrevivência é tentar gerar renda, para ajudar nas despesas da família ou arcar com as suas próprias.

Na maioria das vezes a falta dos anos de estudo e a conclusão do ensino fundamental e médio dificultam desde a procura, inserção até a permanência no mercado de trabalho, incluindo-se aspectos como, falta ensino médio completo, falta de experiência, falta de capacitação, segregação, discriminação racial, social e econômica. Muitos dos adolescentes de nossa sociedade relatam o estigma que existe por parte da sociedade em relação a moradores de áreas periféricas o que aumenta no caso de falta de escolarização, trazendo também a perspectiva racial que infelizmente ainda é relevante no mercado de trabalho e agravante para os que se encontram em condição de vulnerabilidade social.

Segundo Gomes e Pereira (2005) a pobreza não pode ser definida de forma única, mas ela se evidencia quando parte da população não é capaz de gerar renda suficiente para ter acesso sustentável aos recursos básicos que garantam uma qualidade de vida digna. Estes recursos redes de esgoto, saúde, educação, alimentação, moradia e cidadania.

Os autores relatam acerca da exclusão social, ao qual no Brasil está relacionada principalmente a situação de pobreza, uma vez que as pessoas nessa condição constituem grupo em exclusão social, porque se encontram em risco pessoal e social, ou seja, excluídas das políticas sociais básicas, tais como: trabalho, educação, saúde, habilitação, alimentação.

Vulnerabilidade enquanto dimensão social
Pobreza como fruto da falta de Educação e descaso. (Img Internet)

Os problemas de aprendizagem estão diretamente relacionados com a vulnerabilidade social, mais do que isso, as condições de carência material, emocional e cultural influenciam no modo como o individuo se coloca na escola e logo na sociedade. Diante disto a escola é um importante enlace das redes de apoio e proteção que o individuo pode ter ao longo do seu desenvolvimento, a qual os jovens podem apresentar atitudes positivas de confiança e interesse.

A escola também permite que, o individuo faça trocas afetivas fora da família, influencia na organização das redes de apoio social e afetiva, oportuniza o desenvolvimento e capacidade de autonomia, e promoção da resiliência, possibilitando que o indivíduo tenha mais recursos para enfrentar situações adversas e além de tudo tenha a possibilidade de usar as redes de apoio como referência para suas decisões.

Todo silêncio é cúmplice

Mediante estudos é possível notar o aumento da vulnerabilidade social e o desempenho escolar de crianças e adolescentes diante da pandemia da COVID-19.  A questão da dificuldade de aprendizagem apresentadas ou percebidas na criança e no adolescente, inclui problemas decorrentes do sistema educacional onde se caracteriza pela cultura e ambiente em que o mesmo se desenvolve. (HOPPE, 2002).

Estudos apontam que crianças e adolescentes que vivenciam situação de vulnerabilidade social, apresentam dificuldades de desenvolvimento e aprendizagem. Apresentando, sentimentos de impotência diante da construção do conhecimento, baixo rendimento escolar e problemas emocionais.

A educação não está somente na escola. Como diz o jargão popular, ela vem de berço, está presente na rua, na família, na igreja, em todo lugar. O que se torna um grande desafio do momento, nos colocarmos dispostos a mudar essa realidade, articulando esperança e paz para um mundo melhor; acreditando na educação e nas mudanças de políticas sociais e econômicas.

Kaloustian e Ferrari (1994) falam que, por detrás da criança excluída da escola, nas favelas, no trabalho precoce urbano e rural e em situação de risco, está a família desassistida ou não atingida pela política atual. A criança abandonada é apenas a contrapartida do adulto abandonado, da família abandonada, da sociedade abandonada. (AYRES, 1999).

A vulnerabilidade enquanto dimensão social é relacionada aos fatores contextuais que podem influenciar a vulnerabilidade individual, tais como: acesso aos meios de comunicação, escolarização, disponibilidade de recursos materiais, poder de influenciar decisões políticas, possibilidade de enfrentar barreiras culturais, estar livre de coerções violentas ou poder defender-se delas. (AYRES, 1999).

Enquanto profissionais da saúde e educação, não podemos fechar nossos olhos e simplesmente nos sentir em paz presenciando ao vivo e a cores, diariamente famílias em situação de vulnerabilidade social vivenciando os mais diversos tipos de problemas: saúde física e mental, desemprego, desesperança, indecisões, solidão, abusos de toda ordem, discriminações e outros.

Seria como enterrar nossos talentos e, no conforto de nossas casas simplesmente pensar em nós e criticar ou olhar com piedade para aqueles que supostamente, por escolhas próprias não são bem sucedidos na vida.

Vulnerabilidade enquanto dimensão social
A Miséria e a Vergonha Brasileira (img. Internet)

Não podemos nos calar, cruzarmos nossos braços. Vivemos em sociedade, somos humanos e a dor do outro nos abala sim.

A preciosa vida humana está sendo colocada a prova pela fome, pelo frio, pela vulnerabilidade social a cada dia que passa. Diante de tanta atrocidade e morte em massa em que estamos vivendo, somos convidados pela vida a deixar de pensarmos somente no “eu”, e passarmos a pensar em “conjunto”. Há irmãos que gritam por socorro. Estamos vivendo um momento em que nossa sociedade carece da união de todos. “A União faz a força”, já dizia minha mãe. Ajudar o próximo faz bem para a alma, faz bem para a sua saúde mental e traz felicidade em saber que pode somar e multiplicar em uma ação tão necessitada.

Convido-vos a nos unir em prol do nosso País, em prol do nosso Estado, em prol de nossa cidade, unindo nossas forças, redes de apoio e pensarmos em conjunto com outras pessoas em ações que possam beneficiar todos os necessitados.

A necessidade de lidar com as emoções e trabalhar habilidades emocionais nas escolas tornam-se cada vez mais claras, uma vez que o aluno desenvolvido emocionalmente e feliz, torna- se um cidadão ativo e socialmente integrado no ambiente em que vive. Desejamos que diante do contexto em que estamos vivendo, o aluno possa aprender e colocar em prática as melhores atitudes e habilidades, conseguindo então lidar com suas emoções, alcançando seus objetivos, demostrando empatia, mantendo relações sociais positivas e tomando decisões de maneira responsável.

Ketilly Dayane Faria Gomes – Psicóloga clínica e escolar CRP: 14/08219-0

Referências

AYRES, J.R; et al. Vulnerabilidade e a prevenção em tempo de AIDS In: PARKER, R. et al. Sexualidade pelo avesso: Direitos, Identidades e Poder.

São Paulo: Editora 34, 1999.

GOMES, M.A.; PEREIRA, M.L.D. Família em situação de vulnerabilidade social: uma questão de políticas públicas. Ciênc. saúde coletiva, vol.10, n.2, 2005.

HOPPE, Marcia Cristina; COSTA-HÜBES, T da C. Concepções de leitura na Educação Básica e a sua relação com a Prova Brasil. In: XI Jornada do HISTEDBR. Anais da XI Jornada do HISTEDBR. Cascavel – PR: Edunioeste, 2013.

Kaloustian SM & Ferrari M 1994. Introdução, pp. 11-15. In SM Kaloustian (org.). Família brasileira, a base de tudo. Ed. Cortez-Unicef, São Paulo-Brasília.

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Redação

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