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ENEM 2021 – Muitas Dificuldades.

Nem tudo se resume ao Covid19 – a pandemia. Eis o porquê do ENEM 2021 e as muitas dificuldades… Elas que vieram se acumulando e ganharam ‘músculos’ a partir do vírus, é certo, mas outros fatores anteriores, estruturais e conjunturais apontavam para uma crise aguda na pasta e no setor…

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São Paulo, 08/01 de 2021.

2 Minutos

Outros fatores anteriores, estruturais e conjunturais apontavam para uma crise aguda na pasta da Educação, como os atuais desmandos e as inconsequências promovidas pelo time dos “bons” ministros do atual presidente que passaram pela pasta. Aliás, quem é o atual mesmo?

Como retrospectiva é sempre um exercício (geralmente anual) feito por jornais, sejam eles impressos, digitais ou televisivos e seu time de jornalistas, editorialistas, pauteiros etc., atendendo à convocação dos donos dos veículos e às demandas do mercado da comunicação (vespeiro quente em que estão metidas estas gentes – jornalismo e mercado em si é uma contradição gritante), vamos no bojo destas ondulações, serpenteando entre os seus limites (como diria o mestre Graciliano), nem sempre claros e estreitos.

Porém, fica aqui esta tentativa limitada de fazer uma pequena recapitulação no que foram algumas destas crises no sistema educacional brasileiro. Os episódios da inépcia, antecipando a condição processual da educação pública, seu caráter e característica básica e evolutiva, uma crônica de dinâmicas pedagógicas e metodológicas próprias, movidas, no mais das vezes, por circunstâncias e jogos dialéticos da sociedade, e em que se meteram os pés pelas mãos e chegamos às portas do desmanche desta função do estado.

Ao mesmo tempo em que está atrelada às políticas partidárias que fazem parte deste momento social, a Educação, como bem público, direito dos cidadãos e dever do estado, ancora-se firmemente no texto constitucional como pedra basilar sem, contudo, ser tratada e alcançada por políticas públicas definitivas que garantam a sua estabilidade. O balanço modulado pelas vontades externas ao seu esqueleto, delineado na carta magna mostra que o barco navega solto em águas nervosas e ao sabor dos ventos. A cada novo governo alterações de rumo são promovidas, atualmente por timoneiros bêbados e aventureiros de primeira viagem.

Não é luta nova. Nos idos de 1930, antes da segunda porção do mandato político da era Vargas, brigava-se por diversos modelos de educação pública e privada no país. Igreja, partidos políticos, empresas, forças armadas, particulares nacionais e estrangeiras e outros setores sociais, engalfinhavam-se para terem em seus pratos e desejos, os pedaços dela.

De 1930 a 2018…e segue

Meninos de um lado, meninas de outro, aqueles para as disciplinas exatas, engenharia, ou para medicina e direito, com o que poderiam exercer diversas outras profissões (eram cursos puxados e com grande amplitude e abrangência de conhecimentos) ditas científicas, e, às meninas, os (des)caminhos das humanidades, as línguas, prendas, economia doméstica, e outras subalteridades (¹) consideradas à época. Claro que a sociedade extrapolava estes limites, mas eles eram assim postos como o ideal a ser perseguido.

Até que uma turma, liderada por intelectuais e estudiosos do calibre de Anysio Teixeira, Afrânio Peixoto, Lourenço Filho, Antônio F. Almeida Junior, Roquette Pinto, Delgado de Carvalho, Hermes Lima e Cecília Meireles, manifestou-se por uma Educação Nova, uma escola nova, propondo que o Estado organizasse um plano geral de educação que defendia a bandeira de uma escola única, pública, laica, obrigatória e gratuita. 

Claro que a revolta foi generalizada, as divisões continuaram e estão vigentes até hoje! Fatias da sociedade lutando pela hegemonia da Educação : a básica de 9 anos é conquista recente e deveria ficar aos encargos do Estado; a educação superior e a técnica nas mãos da iniciativa privada (mas com muitos incentivos estatais – ou seja, um negócio particular mantido com dinheiro público dos impostos para satisfazer alguns poucos). Nada ou tudo ideológico, mas bem disfarçado pelas diabruras do tal mercado que quer controlar tudo na visão do estado mínimo ou incipiente, neoliberal.

Nos idos de 2004 uma proposta de mudança com a retificação das propostas basilares da Escola Nova de 1930: ensino universal, escola única, pública, laica, obrigatória e gratuita, da base a universidade. Descontentamento dos privatistas, que ganharam espaço a partir de 1990, mas diretivas mais coerentes da afirmação do dever do estado para com o setor estavam e tornaram-se mais evidentes.

Escolas técnicas e universidades privadas tinham seu lugar ao sol garantidos, e como diz a regra do mercado deveriam competir entre si pelos melhores cursos, estruturas, atrativos estudantis, bolsas, financiamentos, qualidade dos professores, das disciplinas etc. Não foi o que se viu, e evidenciou-se ser apenas uma busca por dinheiro, negócios. Qualidade duvidosa. Em contrapartida, para garantir acesso aos que não poderiam pagar o Estado assumiu seu papel e promoveu uma nova ampliação de sua presença na área. Foram criadas mais 13 universidade federais, e a ideia era que cada estado tivesse uma universidade pública, federal gratuita e de excelência.

Novo descontentamento dos privatistas, ataques, planos e estratégias de combate a presença do estado na Educação, até que em 2016 uma bomba político-ideológica aplicada pelas elites insatisfeitas como sempre abalou o país, e os grupos subsequentes que assumiram o poder, através de expedientes pouco claros e lícitos, jogaram todo o processo que se vinha construindo no chão. Com a eleição das forças civis mais obscurantistas e retrógradas em 2018, amparadas por militares de mesma índole, o desmonte chegou aos grandes centros de pesquisa científica e tecnológica do país, e mais uma vez na história do Brasil sua condição de potência subserviente aos interesses externos se confirmou.

Ataque orquestrado à inteligência do país

Chegamos ao ponto de as universidades sofrerem intervenções, cassações policias e políticas impetradas pelo MEC, com fechamento de escolas inteiras, prisões, processos arbitrários baseados em auditorias suspeitas, corte de verbas e imposições orçamentárias controladas por forças externas ferindo a autonomia universitária.

O ministro Weintraub (o segundo a ocupar a pasta, e que foi morar nos EUA após ter-se revelado um verdugo da nossa Educação) acusou os centros universitário de serem plantações de maconha, frequentados por traficantes e arruaceiros, criadores de balburdia – ele que tem currículo suspeito e demonstrou, inclusive pouco conhecimento da nossa língua. Um infiltrado, distante do mundo acadêmico, obviamente amparado por forças obscuras e contrárias às liberdades democráticas, dos direitos humanos e não patrióticas.

A reação se deu , mas a desconstrução permaneceu atuando, e vimos fortes tentativas de destruição total propondo o desamparo absoluto do setor com FUNDEB, reformas curriculares, trocas de ministros, atuações canhestras e nitidamente mal intencionadas contra a Educação. Ninguém nunca afirmou, considerando o sistema educacional como um organismo social que se revira e evolui, que reformas tem de ser feitas, com adequações aos tempos e necessidades de avanço tecnológico.

Uma velha doutrina militar norte-americana pegou um vírus.

Entretanto, quebrar a universidade, destruir a estrutura (que felizmente se manteve, graças aos esforços de resistência dos setores organizados) foi o que fizeram. Um plano diabólico e maquiavélico baseado numa história da carochinha que repete a mesma ladainha fascista das décadas de 50, 60 e 70 do século passado.

Tudo deve ser feito para barrar o ataque dos “comunistas” na América do Sul” – a indefectível doutrina Marshall da segunda guerra, a mesma idiotice ideológica suprema do regime nazifascista de A. Hitler e que corroeu a cabeça de milhões de brasileiros que embarcaram, mais uma vez, nesta bazófia sem fundamento.

6 milhões de idiotas?

Aí veio o Covid19, a pandemia da gripe SarsCov2 e todos tiveram de engolir o “poder dos comunistas e seus vírus!” Ou melhor, todos tiveram de usar máscaras e terão de tomar as vacinas correndo o risco, segundo o mandatário e a inteligência mor do país na atualidade, de se “tornarem jacarés cor de rosa com pelos amarelos nos sovacos”…

Como isso interferiu no ENEM e na vida dos jovens que ficaram 9 meses do ano de 2020 e vão entrando em 2021 sem acesso aos bancos escolares? Não interferiu, não causou o menor problema, afinal não se sabe porque 6 milhões de jovens estudantes brasileiros querem entrar na Universidade… Para que? “Aquilo é uma balbúrdia, uma plantação de maconha organizada por traficantes…” Um desperdício de dinheiro público, com tanta vaga de trabalho no mercado que precisa de engraxates, catadores de latinhas de alumínio, organizadores de festinhas para pets, empreendedores de carrinhos de cachorro-quente…

Estou certo senhores ministros da Educação e outros amigos escravagistas? Jovens estudantes brasileiros são mesmo uns idiotas completos? É isso?
Por favor, jamais botem a culpa neles.

Grilhões invisíveis: http://books.scielo.org/id/y3zhj/pdf/schlesener-9788577982349-05.pdf

 

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Redação

ÆscolaLegal é um esforço coletivo de profissionais interessados em resgatar princípios básicos da Educação e traduzir informações sobre o universo multi e transdisciplinar que a envolve, com foco crescente em Educação 4.0 e além, Tecnologia/Inovação, Sustentabilidade, Ciências e Cultura Sistêmica. Publisher: Volmer Silva do Rêgo - MTb16640-85 SP - ABI 2264/SP