Abelhas Própolis e a Mumificação!

Quando pensamos em múmias, é muito provável que a primeira coisa que nos venha a cabeça nos remeta aos egípcios…

Gleycon Silva e Tatiana de Oliveira Ramos

Poços de Caldas – 20/08 de 2021.

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Entretanto, em algum momento já se perguntou quando e de onde eles tiraram a ideia de mumificar seus mortos, e se realmente essa técnica foi inventada por eles??

Pois bem, para compreendermos essa história teremos que voltar no túnel do tempo e compreender alguns fatos para que fique mais claro essa questão de mumificação, e para isso, precisamos voltar na origem da domesticação das abelhas.

Há dezenas de milhares de anos o ser humano possui uma relação com as abelhas e ninguém sabe ao certo quando e onde essa relação se iniciou. A princípio essa relação era apenas com a coleta de colmeias silvestres, conforme pode-se observar na figura 1 (abaixo.)

Bom, agora que sabemos a origem da domesticação das abelhas pelo homem, chegamos ao Egito. A apicultura de uma forma mais técnica surgiu no Antigo Egito, há cerca de 4.400 anos.

Eles descobriram que era possível criar as abelhas em recipientes de cerâmica para a formação de uma nova colônia. Os egípcios sabiam que aquilo se tratava de um cultivo (do latim, appis = abelha + cultus = cultivo), uma situação inédita até então em relação a insetos.

Ou seja, as abelhas foram os primeiros insetos a serem cultivados na história da humanidade!

Diante isso, com muitas observações os egípcios notaram algo muito interessante que as abelhas faziam com seus intrusos, elas faziam um processo do qual o corpo deles ficavam rígidos e conservados como se fosse de forma eterna. Isso certamente deixou os egípcios muito intrigados e curiosos!

Ao passar do tempo notaram que durante o verão as abelhas não toleravam intrusos, entretanto quando chegava na estação do inverno, com a diminuição da temperatura, para que a colmeia não resfriasse era preciso se agrupar ao centro da colmeia para gerar calor e não permitir que os ovos e pupas morressem de frio. Assim, as entradas e laterais da colmeia ficavam indefesas e era por essas brechas que alguns animais se aproveitavam para se esconder e/ou tentar se alimentar do mel.

Eram muitos os  invasores, e às vezes muito maiores quer as abelhas, como os ratos, que foram encontrados mortos dentro da colmeia, talvez pelas abelhas que os atacaram ou por morte natural devido ao frio, ou ambos.

Mas o fato é que aquele animal morreu e ficou lá dentro. Era preciso dar um jeito, afinal o corpo de um rato é muito grande para que consigam carrega-lo para fora da colmeia, como naturalmente fazem com os corpos das abelhas mortas e outros pequenos detritos.

A solução  era cobrir o cadáver com própolis, o qual efetivamente isolava o rato morto do resto da colmeia.

Notem que as abelhas retiraram todo o pelo do rato antes de realizar o processo de mumificação. E a título de curiosidade, veja a origem da palavra “própolis”…  do grego = pró = posição em frente, anterior, antecipado, a favor de; polis, de poli = cidade. Assim, própolis pode ser definida como “defesa da cidade”.

A própolis é uma série de substâncias resinosas e balsâmicas, produzidas pelas abelhas para fechar e proteger a colmeia do frio, da chuva, da invasão de insetos, roedores e qualquer outro tipo de perigo.

Suas substâncias são produzidas com matéria-prima retirada de plantas, principalmente de flores e de cascas
de determinadas árvores. A própolis é uma resina aromática muito rígida, como se fosse uma massa de cimento para nós.

Durante muitos anos os cientistas assumiram incorretamente que as múmias eram mumificadas naturalmente pelas condições quentes e secas do deserto, um processo conhecido como dessecação, afinal era um mistério para a comunidade científica a receita dos bálsamos usados pelos antigos egípcios para confeccionar suas múmias.

Uma dupla de químicos da Universidade de Bristol, Reino Unido, descobriram que os líquidos aplicados no processo de mumificação possuíam uma variedade de ingredientes maior do que se suspeitava e muitos eram feitos à base da cera de abelhas.

Através de técnicas de espectrometria de massa (que detecta a “assinatura química” dos compostos), eles analisaram 13 múmias que datam de 1900 a.C. até o período romano e fizeram uma incrível descoberta.

A  cera de abelha se tornava um ingrediente cada vez mais importante dos bálsamos. “A escolha aponta para o fato de que os embalsamadores conheciam suas propriedades antimicrobianas”.

Ou seja, os egípcios aprenderam com as abelhas como mumificar! Registros mostram que todas as múmias encontradas no Egito possuem a própolis em sua composição. Por possuir propriedades antifúngicas e antibacterianas, a própolis é considerada até hoje um dos principais remédios naturais que existem!

Ao longo da história da humanidade até a atualidade, a própolis tem sido usada por humanos para diversos fins incluindo usos medicinais, ceras e cola. É incrível notar e observar o quanto nós podemos aprender com as abelhas e a Natureza, um aprendizado constante que merece o máximo respeito e assim, preservar cada vez mais esses insetos que estão conectados com a humanidade a dezenas, talvez centenas de milhares de anos.

Gleycon Silva – Gestor Ambiental – Doutorando em Ecologia – INPA
Tatiana de Oliveira Ramos – Bióloga – Doutora em Entomologia Agrícola pela UNESP