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Das Revoltas Populares no Brasil

Historiador revisa a revolta da Cabanagem (vídeo) revolta popular que ocorreu entre 1835 e 1840 na região amazônica e alguns historiadores a consideram a maior revolta popular da história do Brasil. É bom para desmistificar a ideia de que o país é pacífico e sua gente suporta, até centro ponto, a maldade das elites econômicas, industriais e agrárias nas suas lutas no poder contra as gentes mais humildes.

Redação

São Paulo, 31/03/2023

2 Minutos.

Revolta Popular é fato bastante comum no Brasil, foram várias. Embora as elites financeiras-industriais e grandes proprietárias de terras sempre tenham procurado esconder a realidade a partir de fortes investimentos na mídia e na policialização (uso das forças armadas) dos processos. Felizmente, historiadores comprometidos com a verdade descortinam os fatos com pesquisas e documentos.

Diferentemente das manifestações por Deus, família, propriedade, moral e bons costumes, ajuizadas pelas classe media e pequena burguesia, as lutas e conquistas das classes populares lutam por moradia digna, alimentos, educação e saúde, justiça social e direitos sociais e humanos básicos, necessariamente presentes em qualquer sociedade que se pretende moderna e humana.

O livro
Das Revoltas Populares no Brasil
Cabanagem é talvez a maior revolta popular no Brasil – Capa do livro (Img. Web)

Durante muito tempo a “Cabanagem”, ocorrida entre 1835 e 1840, na antiga província do Grã-Pará (abrangia os atuais estados do Maranhão, Piauí, Pará, Amazonas, Amapá e Roraima), foi explicada pelos historiadores selecionados de forma muito breve, e quase sempre como mais uma das muitas “revoltas regenciais” que aconteceram por todo o Brasil durante o Período Regencial (1831-1840).

O rótulo, no entanto, acaba escondendo particularidades fundamentais dessa revolta: a sua profunda e singular relação com a região amazônica.

Essa visão, felizmente, tem sido revisada nos últimos anos por uma série de novas pesquisas sobre a região amazônica no período regencial.

Um desses estudos foi publicado recentemente pela Fundação Lauro Campos e Marielle Franco: “Cabanagem: revolução amazônica: 1835-1840”, do historiador José Alves de Souza Junior (UFPA), de 2022. O livro tem download gratuito aqui, em formato PDF e MOBI.

O objetivo principal da Cabanagem teve seu foco na luta contra a dominação política, econômica e social das elites locais e também contra a dominação da corte portuguesa que governava o país. Ela ainda ecoa no país, pois encontra paralelos concretos na atualidade.

Anti-escravagista , contra a dominação e a exploração

No livro, Junior explica que a Cabanagem (vídeo)foi a maior revolta popular da história do Brasil .“Constituiu-se em um momento privilegiado de uma longa tradição de resistência desenvolvida pela massa de despossuídos pela colonização.  Enorme contingente populacional formado por indígenas, negros, mestiços e homens brancos pobres”. Segundo o historiador, a insurreição apresentou alto nível de organização, com o emprego de táticas de guerrilha que permitiram aos revoltosos fazer frente a superioridade militar do inimigo.

“Apesar de derrotada, não pode ser apagada da memória da população paraense como tem permanecido até hoje. É preciso devolver a ela a importância que teve como movimento que ousou enfrentar a elite econômica e política dominante na província do Pará, colocando em xeque a estrutura fundiária, que reconhecia o direito de propriedade da terra a muito poucos, a escravidão, a exclusão social da maioria da população”, escreve o professor da UFPA.

A revolta foi liderada por cabanos, como eram chamados os participantes da revolta,  na maioria negros, índios, mestiços, sempre desqualificados pela sociedade dominante, excluídos e explorados pela elite econômica e política da época. Eles se rebelaram contra o governo imperial brasileiro, que era controlado pelas elites locais e também contra as forças portuguesas que ainda tentavam manter o controle da região. O episódio causou grande preocupação entre a elite colonial e provocou distúrbios até mesmo na América caribenha.

Bruno Leal  – Professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da UnB.
Pós-doutor em História Social pela (UFRJ).

[N.E.: interessante a existência da língua nheengatu, a fala comum entre todas as etnias da região, até hoje.]

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