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Raça-Gênero: Jornalismo Brasileiro

Os dados colhidos pela GEEMA apontam sub-representação de negros e mulheres nas redações dos principais veículos da imprensa nacional.

Redação

São Paulo, 26/05/2023

2,3 Minutos.

A desigualdade racial é brutal no jornalismo. Atualmente os grandes veículos de comunicação têm sido representados pelo homem branco. Essa é uma constatação do estudo Raça, gênero e imprensa: quem escreve nos principais jornais do Brasil? produzido pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (GEMAA), núcleo de pesquisas ligado ao IESP-UERJ.

A pesquisa revela grande sub-representação de profissionais negros e mulheres nas equipes de redação dos três maiores jornais do país: O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo e O Globo. Para o estudo foram pesquisadas cerca de 1200 jornalistas.

O estudo analisou uma amostra aleatória das edições impressas publicadas na primeira metade do ano de 2021. Dados revelaram que 84,4% das pessoas que assinaram os textos são brancas. O segundo grupo mais numeroso no jornalismo brasileiro, segundo o GEMAA são:  pardos (6,1%), são seguidos dos pretos (3,4%), amarelos (1,8%) e indígenas (0,1%).

Os resultados se tornam ainda mais impactantes quando analisadas as equipes individuais de cada redação. O Estadão é o jornal com resultados mais desiguais -equipe 88,7% branca, 4,9% parda, 1,2% preta, 0,7% amarela. 4,5% restantes não foram identificados. Já a Folha de S.Paulo apresenta um pequeno aumento em termos de diversidade, com 84,1% de profissionais brancos, 5,4% pardos, 5,2% pretos, 2,5% amarelos e 2,8% não identificados.

Raça-Gênero: Jornalismo Brasileiro
Os números obtidos pela pesquisa mostram as disparidades. (Img. GEMMA)

Por fim, O Globo, jornal que obteve o melhor resultado da pesquisa, mas que ainda está longe de apresentar um cenário ideal em termos de inclusão e valorização da diversidade tem 79% da equipe branca, 8,9% parda, 3,3% preta, 2,3% amarela e 0,3 indígena com 6,2% não identificada.

Espaços ocupados – Espaços (in)comuns

Além disso, o GEMAA destaca a desigualdade de gênero existente nas redações analisadas, com média de 60% dos profissionais homens. No Estadão 35,7% da equipe é formada por mulheres e no Globo, 36,1%. Já na Folha mulheres formam 38% das equipes. Quando se trata da interseccionalidade ao analisar a inclusão de mulheres trans, nenhum dos três jornais conta com representação transgênero fixa em suas redações. No período pesquisado, apenas uma autora trans contribuiu com um artigo a convite da Folha de S. Paulo.

Por fim, quando analisados todos os dados em conjunto, o resultado é o esperado: as redações são dominadas por homens brancos. No Estadão, representam 56%, na Folha 52% e no Globo 50%.

João Feres Júnior, coordenador do GEMAA, reforça que a solução para essa desigualdade racial e de gênero nos grandes jornais é a adoção de ações afirmativas que são um caminho para alcançar mais igualdade e justiça social. “O ideal é a criação de uma política de inclusão com metas, ou que estabeleça cotas como (para) fixar que, em cinco anos, tenhamos 20% ou 30% de negros e mulheres nas redações”, diz.

Cor da pele, idade e gênero – combinação cruel

A questão do etarismo também encontra espaço no jornalismo brasileiro. Segundo o estudo, profissionais acima de 50 anos são poucos, principalmente se forem negros. Na amostra, entre pessoas brancas, 36% têm mais de 50 anos, enquanto entre as negras esse percentual é de apenas 15%. A disparidade também é observada nas faixas etárias de homens e mulheres, com 40% dos homens acima de 50 anos, em comparação a apenas 23% das mulheres.

Essa pesquisa reforça o papel do jornalismo na reprodução simbólica da sociedade brasileira e na informação política dos cidadãos, que é fundamental para o funcionamento do regime democrático. João Feres acredita que “essa sub-representação de pretos e pardos nos grandes jornais confirma um grave problema de ordem cultural, social e política que parece não ter sido combatido por medidas de inclusão e diversidade nas redações”.

Acesso à pesquisa completa aqui

 

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