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A Normalização dos Transtornos Mentais

Um dos efeitos negativos do “novo normal” é justamente a normalização de transtornos que passaram a ter uma alta incidência na pandemia. 

Dra. Gesika Amorim

São Paulo, 02/03 de 2022.

1 Minuto.

Hoje estamos enfrentando um estresse prolongado que tem gerado doenças ou piorando as já existentes. Além de prejudicar o funcionamento saudável do nosso organismo, a Síndrome Estresse Covid está modificando o nosso comportamento com certas compulsões que trarão outros problemas de saúde: ou seja, é muito comum que o estresse leve a pessoa a consumir mais doces e alimentos ricos em carboidratos, alimentos chamados de confort food, ou, comida que traga conforto.

É notório então o ganho ponderal de peso pós pandemia e também o aumento dos quadros de diabetes. Também já é notório o aumento do consumo patológico de álcool e outras drogas, causado por esse mesmo estresse.

Um dos efeitos mais nocivos que se apresenta hoje é a normalização do  patológico. Por exemplo, as pessoas hoje já começaram a se acostumar com o fato do transtorno de ansiedade se tornar corriqueiro. As pessoas já estão normalizando a situação, minimizando o problema. Não importa se está todo mundo adoecido, mais ansioso e sofrendo com algum transtorno, e não faz diferença quem sofre mais ou menos, uma vez que a doença está sendo vista como algo normal nos dias de hoje, o que é muito perigoso– Alerta.

Hoje há uma enorme multidão de pessoas que desenvolveram quadros de ansiedade e depressão, e aquelas que já tiveram esse problema antes da pandemia, e mesmo com a situação controlada, voltaram a ter crises mais frequentes e intensas. E isso tem agravado, principalmente, na saúde mental de crianças e adolescentes.

A Normalização dos Transtornos Mentais
Crianças são vítimas maiores do “novo normal”

Com um evento tão adverso em uma escala global, sendo ainda considerada um fator de estresse e violência, a pandemia quebrou o ciclo do desenvolvimento das crianças, seja através de alterações na arquitetura cerebral, alterações imunológicas e hormonais, e também estresse parental e social que pode prejudicar o crescimento e desenvolvimento da criança; o estrese crônico vai comprometer este desenvolvimento – Explica.

A saúde mental da criança e do adolescente – Os Desafios e as consequências no Pós-Pandemia

O maior problema é  o “novo normal” e o Transtorno de Ansiedade está sendo visto e levado como não patológico. A doença está se normalizando, as pessoas estão se acostumando com os sintomas de palpitações, sudorese nas palmas das mãos, expectativa de coisas ruins sensação de desesperança e sofrimento, minimizando o problema. Outro grande problema que faz parte do novo normal, e que está atingindo crianças e adolescentes, são as mudanças comportamentais.

 Crianças entre 2 a 4 anos de idade perderam, praticamente, dois anos do início de suas vidas, são crianças que não conviveram em sociedade, elas não sabem brincar com outras crianças, não conviveram em família e, em muitas situações, não aprenderam a cumprir regras e ordens. São crianças que não tiveram a primeira infância, sem acesso a nossa realidade antes da pandemia, elas conhecem uma realidade completamente anômala, principalmente crianças que vivem em apartamentos – Alerta Gesika

Muitas destas crianças estão com dificuldade de se ressocializarem com seus colegas, inclusive com a volta às aulas, sentindo-se inseguras no contato com o ambiente escolar. Adolescentes passaram a se isolar ainda mais com a pandemia, voltando-se para as telas, com jogos virtuais ou fazendo uso excessivo das redes sociais, afastando-se ainda mais da realidade.

Os adolescentes, na faixa de 12 a 16 anos de idade, ficaram dois anos em casa, em uma fase em que a socialização é muito importante. Esses adolescentes ficaram convivendo online, no mundo virtual. A consequência é que agora temos uma juventude que não sabe lidar com o embate, não sabem trabalhar o emocional. Estamos tendo uma leva de adolescentes com transtornos comportamentais, transtornos de humor e quadros depressivos, isso porque eles não conhecem as emoções ruins, não sabem viver em sociedade, e agora precisam encarar a realidade – diz a Dra.  Gesika Amorim.

É urgente que todos nós, médicos, pais, professores, cidadãos, governantes, olhem com atenção a este problema, poraquê ele é só o início de um iceberg. O retorno das aulas e consequentemente o viver em sociedade causara um boom de transtornos comportamentais” – finaliza a especialista.

Gesika Amorim é Mestre em Educação Médica – Especialista em Neurodesenvolvimento e Saúde Mental.

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Redação

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