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Revolta da Vacina – Circuito histórico

Na história do país a Revolta da Vacina (10 e 16 de novembro de 1904) iniciada no governo do presidente latifundiário paulista Rodrigues Alves (1848 – 1919), cafeicultor e dono de outras empresas, se deu por outras razões para além da questão da saúde…Revolta da Vacina – Circuito histórico é uma inferência

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São Paulo, 18/12 de 2020.

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Um consórcio europeu (França, Inglaterra na cabeça) queria expandir a produção da revolução industrial e fazer uma exposição mundial no Rio de Janeiro, capital nacional, onde estava o palácio do presidente da república, trazendo grandes inventos da época, entre eles o trem a vapor, com a construção da malha ferroviária, uma inovação capaz de transportar cargas de café e outros bens infinitamente superior ao uso de mulas, cavalos e carroças. Volume, segurança e velocidade, apesar de não ultrapassarem, à época, uns ralos 30 Km por hora. Ainda assim, uma enorme vantagem.

Mas, por que lá, no Rio de Janeiro? Razões e estratégias do capital abundante já naquela época. O porto era próximo, as rotas conhecidas, o presidente estava lá no palácio, os bancos, os grandes “empresários” brasileiros, os generais, os almirantes, os coronéis. A internacionalização da indústria da primeira revolução industrial (sem contar o anteriores adventos da agricultura, da roda, da pólvora etc., de muitos séculos antes), ancorada na capacidade da produção mecânica e em massa, com máquinas a vapor e a emergente solução da 2ª rev. ind, – a energia elétrica. Tudo conjuminava na ocasião e no lugar para a festa da tecnologia mais avançada da época

Ora, quem queria ficar de fora? Os escravos estavam “libertos”, mas não a escravidão, a força do capital sobre o trabalhador sem os meios da produção se impunha naturalmente. Este trabalhador era detentor da força de trabalho, sua única moeda de troca. Substituí-los pela máquina? “Ora, danem-se estes pobres”… Pensar historicamente talvez nos ajude a entender as razões desta onda que a revolução industrial 4.0 se ergueu neste primeiro quarto século XXI e se abateu sobre nós como um tsunami.

O processo de substituição da mão-de-obra humana pelas máquinas gerou milhões de pobres e abandonados sem trabalho no campo (um reforço à “abolição” pela lei de Isabel em 1888) e eles vieram para as cidades, no caso do Rio de Janeiro por uma motivo simples: era a capital do império e agora da república, recém instalada. Era lá que estava a riqueza, o coração pulsante e irrigado da economia do país. Tanta gente pobre, tanta gente miserável, brutal diferença entre pobres e ricos (com forte acumulação de capital nas mãos destes últimos, e concentração de indigentes na área do porto facilitaram a propagação de varíola, além de outras doenças oportunistas, como sempre ocorrem.

As exigências dos industriais e dos governos europeus e brasileiros interessados na exposição e venda e compra de seus produtos no Brasil foram simples: “Vocês querem o progresso? Nós levamos até vocês. Então, além de pagarem alguns milhões de libras esterlinas e francos, vocês terão de limpar toda a área, desinfetá-la da varíola, das outras doenças, das prostituas, dos rufiões, dos negros e dos pobres que a tornam desinteressante, embora com grande potencial de tornar-se um local limpo, rico, atraente. Façam a lição de casa (conversa de economistas, jornalistas, investidores e patrões) e nos instalaremos!” A resposta brasileira foi unânime, sem pensar: “Sim, queremos e vamos fazer!”

Oswaldo Cruz estuda uma vacina contra a varíola
O médico sanitarista Oswaldo Cruz durante uma pesquisa (arqv. Fiocruz)

O resultado foi uma semana de violência, tiros, pancadaria, mortes e ferimentos resultados dos choques da polícia, do exército e das forças de segurança do governo contra os populares.

Foram mais de 1800 casos confirmados de varíola nos hospitais. O perigo da uma explosão da doença que já matara milhões na Ásia (Índia, principalmente) tinha de ser evitado no Novo Mundo. Na sequência dos fatos, o arquiteto-engenheiro do presidente entrou em ação e, como apoio do exercito expulsaram os moradores locais, derrubaram as casas, ‘limparam a área’ e começaram a reformar a região.

Quem morava lá e não tinha para onde, tiveram de subiram o morro. Foi quando surgiram as favelas cariocas. Mas isto é outra história (na verdade, a continuação desta sequência de fatos históricos – nada está desconectado – o mundo onde vivemos e a sociedade são o resultado das ações humanas).

Revolta da Vacina – Circuito histórico. Dando um pulinho até 2021, as coincidências se avolumam… De fato, não existem coincidências em História político-social-econômica no planeta – existem interesses que se repetem. Alguns cruentos e sanguinários, outros disfarçados, mas sempre na mesma “pegada”. Desta vez, ao invés de atacar e matar com armas, cassetetes e embate direto, deixar morrer…

Sem razão, sem pensar, sem estudar, sem fazer as consultas públicas necessárias e chamar o melhor da inteligência nacional, da Ciência, de quem entende do problema, opta-se pelo mais simples, política populista, um lava mãos desde Pilatos…Os de sempre sofrem, e os de sempre se dão bem!

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Redação

ÆscolaLegal é um esforço coletivo de profissionais interessados em resgatar princípios básicos da Educação e traduzir informações sobre o universo multi e transdisciplinar que a envolve, com foco crescente em Educação 4.0 e além, Tecnologia/Inovação, Sustentabilidade, Ciências e Cultura Sistêmica. Publisher: Volmer Silva do Rêgo - MTb16640-85 SP - ABI 2264/SP