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Ressignificando avaliação nas escolas

Como avaliar o aprendizado de um aluno sem estar frente a frente com ele? A que deve servir uma avaliação nesse contexto?

Vinícius Freaza

São Paulo, 27/08 de 2020.

Dentre as inúmeras mudanças sociais que surgiram por conta do distanciamento de prevenção a COVID-19, estão os novos horizontes na educação, e consequentemente as mudanças nos métodos e objetivos: ressignificando avaliações nas escolas.

Primeiro, é o momento de escolas e redes de ensino refletirem sobre o uso da avaliação como mecanismo de reprovação, sobretudo com a pandemia ainda não controlada.

Nos Estados Unidos, por exemplo, a cidade de Nova Iorque decidiu que seus alunos não repetirão de ano e a sistemática de notas está dividida em três classificações: “atende aos parâmetros”, “precisa melhorar” e “curso em andamento”.

Alunos identificados nas duas últimas situações passarão por reforço escolar. Já na Itália, a nota final levará em consideração a trajetória escolar do aluno, não apenas o resultado das avaliações deste ano.

No Brasil, o Parecer nº 5/20 do Conselho Nacional de Educação (CNE), homologado em 29 de maio pelo Ministério da Educação (MEC), sinaliza a importância da realização de uma avaliação diagnóstica no retorno das aulas presenciais para que seja possível identificar o “desenvolvimento em relação aos objetivos de aprendizagem e habilidades que se procurou desenvolver com as atividades pedagógicas não presenciais e construir um programa de recuperação, caso necessário, para que todas as crianças possam desenvolver, de forma plena, o que é esperado de cada uma ao fim de seu respectivo ano letivo”.

Processos, dúvidas e propostas

Os debates e encontros virtuais atuais que estão ocorrendo com frequência no setor educacional trazem discussões sobre como os modelos tradicionais de ensino estão se adaptando a esse ano letivo tão atípico.

Enquanto aguardamos uma vacina e acompanhamos os planos de retomada das escolas nos diferentes estados brasileiros, os estudantes seguem assistindo aulas à distância.

Chama-nos atenção as mudanças que precisaram ser implementadas repentinamente na dinâmica dessas aulas. Nesse novo processo, é natural que muitas dúvidas surjam entre os educadores e as famílias.

Os alunos realmente estão aprendendo com as aulas on-line? Quais habilidades e conteúdos deverão ser retrabalhados com uma turma quando as aulas presenciais voltarem? Como identificar e trabalhar as dificuldades individuais de cada aluno?

Durante minha jornada na área da educação, inclusive em sala de aula, onde passei parte da carreira como professor de química, tenho reforçado a necessidade de utilizar a avaliação prioritariamente pelo viés diagnóstico.

Agora, mais do que nunca, a defesa dessa abordagem faz todo sentido. A pandemia trouxe a oportunidade de escolas e educadores repensarem suas estratégias pedagógicas.

No retorno às escolas, além de todos os cuidados sanitários e socioemocionais, será preciso realizar uma avaliação diagnóstica que identifique os pontos a melhorar de uma turma ou série, mas que também possibilite estabelecer um olhar personalizado para os alunos. Alguns tiveram mais facilidade de aprender à distância do que outros e isso precisará ser mensurado.

O método clássico de avaliar alunos – por meio de categorização – já vinha sofrendo críticas, mesmo antes do cenário atual. Com o ensino remoto adotado em massa, a utilização compulsória de plataformas tem gerado uma valiosa massa de dados proveniente, principalmente, de atividades avaliativas digitais.

Ferramentas à mão

A partir de ferramentas elaboradas especificamente para instituições de ensino, esses dados podem ser organizados e analisados adequadamente, convertendo-se em informações relevantes sobre a aprendizagem dos alunos, que servirão como referência para estruturação de ações pedagógicas que respondam às necessidades identificadas.

Nesse contexto, a avaliação deixa de ser mero instrumento classificatório ou apenas momento de treino para os alunos, e passa a ser uma importante interface de coleta de dados sobre aprendizagem, que deverão ser criteriosamente analisados para tomada de decisão.

O Simulado Enem Online criado no início da pandemia, por exemplo, permite com que os alunos continuem se preparando à distância para o exame, ao mesmo tempo em que gera dados para a escola sobre quais competências, habilidades e conteúdos precisam ser melhor trabalhados para que os resultados de aprendizagem sejam otimizados.

Por contar com a mesma metodologia do exame oficial – a Teoria de Resposta ao Item (TRI) – cada aluno tem a sua proficiência medida nas diferentes áreas do conhecimento, o que permite a recomendação de atividades personalizadas para alavancagem de desempenho individual.

Os números que atingimos em tão pouco tempo mostram a necessidade latente das escolas em mensurar a aprendizagem cognitiva dos seus alunos, mesmo que de maneira remota: mais de 200.000 mil alunos já realizaram o simulado on-line do Enem durante a pandemia, em mais de 1.700 escolas parceiras em todo o país

O que mais nos anima entretanto, é o que tem ocorrido com muita frequência após a avaliação. Muitas dessas escolas estão nos procurando para entender como analisar os dados das avaliações minuciosamente e elaborar intervenções e atividades relevantes a partir deles, direcionando os seus esforços e tempo para os pontos que realmente farão a diferença na aprendizagem dos alunos.

Finalmente temos visto a nota na escola deixar de ser o ponto final e se tornar, cada vez mais, o ponto de partida.

Vinícius Freaza, Diretor de Inovação Pedagógica

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Redação

ÆscolaLegal é um esforço coletivo de profissionais interessados em resgatar princípios básicos da Educação e traduzir informações sobre o universo multi e transdisciplinar que a envolve, com foco crescente em Educação 4.0 e além, Tecnologia/Inovação, Sustentabilidade, Ciências e Cultura Sistêmica. Publisher: Volmer Silva do Rêgo - MTb16640-85 SP - ABI 2264/SP