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Por que insetos estão desaparecendo?

O Brasil é o país com a maior biodiversidade do planeta, nenhum outro lugar do mundo tem diversos biomas, abundância e diversidade de espécies de plantas e animais! Eles representam um elo importante na cadeia de sustentação da vida no planeta. Mas, por que os insetos estão desaparecendo?

Tatiana de Oliveira Ramos e Gleycon Silva

Biodiversidade

São Paulo, 15/03 de 2021.

2 Minutos

São quase 94.000 artrópodes descritos, sendo os insetos a maior parte com cerca de 83.000 espécies descritas. Os insetos são componentes essenciais do meio ambiente e apresentam como principais funções arejar o solo, cavar túneis que permitem a passagem da água, polinizam as flores, controlam outros insetos pragas, são necrófagos e se alimentam de animais mortos, auxiliam na decomposição da matéria orgânica reciclando os nutrientes que voltam para o solo, e o fertilizam através de seus excrementos beneficiando o crescimento das plantas.

Produzem substâncias como o mel, laca e a seda que apresentam uma enorme importância econômica. Além de terem uma grande concentração de proteínas, vitaminas de alta qualidade que complementa o cardápio de aproximadamente 2 bilhões de pessoas no mundo.

O que é interessante salientar é que embora apresentem importância para o Meio Ambiente, mais de 40% das espécies de insetos estão ameaçados de extinção, e as ordens Lepidoptera, Hymenoptera e Coleoptera são as mais ameaçadas, enquanto que em ambiente aquático as ordens Odonata, Plecoptera, Trichoptera e Ephemeroptera apresentam redução de indivíduos na sua população.

Um estudo realizado em 2019 indica que a perda de habitat para conversão para a agricultura é o principal fator de declínio na população de insetos, enquanto que, os poluentes químicos, espécies invasoras e as mudanças climáticas são causas adicionais.

O livro vermelho de espécies ameaçadas de extinção cita que a ordem Lepidoptera apresenta 25 espécies criticamente em perigo, 26 espécies em perigo e 12 espécies vulneráveis. A ordem Hymenoptera apresenta 2 espécies criticamente em perigo, 9 espécies em perigo e 7 espécies vulneráveis. Os insetos da ordem Coleoptera apresentam 7 espécies criticamente em perigo, 8 espécies em perigo e 14 espécies vulneráveis.

O apocalipse dos Insetos…

Enquanto que as ordens Ephemeroptera e Odonata apresentam respectivamente 9 e 18 espécies ameaçadas. A presença dessas ordens no livro vermelho de espécies ameaçadas de extinção considera que a soma de diversas causam afetam a vida dos insetos. Contudo, as atividades antrópicas devido o crescimento populacional é uma das principais causas do declínio na população de insetos, além disso, deve-se levar em consideração a ecologia de cada espécie que pode representar um aumento na sua vulnerabilidade.

A ausência de insetos no Meio Ambiente tem efeitos devastadores para a vida do homem, afetando a produção de alimentos, ocasionando a perda de habitat, tornando o ambiente cada vez mais escasso de recursos e comprometendo a sobrevivência dos animais polinizadores. O declínio na população de insetos coloca em risco a população dos vertebrados como na população de muitos pássaros, répteis, anfíbios e peixes que se alimentam de insetos e na ausência dessa fonte alimentar, todos esses animais morrerão de fome.

As borboletas e mariposas são consideradas boas indicadoras dos níveis de impacto do Meio Ambiente, são essenciais na polinização e servem de alimento para morcegos, entretanto, um estudo realizado na Holanda revelou que 11 de 20 borboletas estudadas diminuíram sua população entre os anos de 1992 a 2007.

Abelhas e vespas são insetos importantes no ambiente e suas variações espaciais e temporais de sua abundância e riqueza têm demonstrado correlações importantes com as alterações na estrutura do ambiente e com a diversidade de outros organismos. Considerando os ecossistemas, as abelhas são caracterizadas como as principais polinizadoras do mundo, são fundamentais na reprodução de espécies vegetais nativas e no aumento da produtividade de plantas cultivadas.

Na Amazônia, a população do besouro rola-bosta caiu para um terço do total após o EL Niño registrado de 2014 a 2016. De acordo com a pesquisa esse dado demonstra um cenário alarmante chamado de “Apocalipse dos insetos” que deve-se as condições climáticas extremas, atividade humana, degradação florestal, incêndios e desmatamento que estão causando o declínio da população de insetos.

Rola bosta, este inseto é um especialista em plantar sementes não digeridas de mamíferos pastadores, como bois, cavalos, carneiros etc… (Foto Internet)

O besouro rola-bosta desempenha um importante papel ambiental ao espalhar sementes e nutrientes das fezes dos animais pela floresta, contudo essa atividade apresentou uma redução de 67% para 22%, o que é considerado um risco para a vida da floresta.

Ecólogos afirmam que a Mata Atlântica já deve ter perdido entre 15 mil a 38 mil espécies de insetos, o que torna o Bioma a sexta área do mundo em perda de espécies de insetos.

Eles precisam de muita proteção

O estudo ainda ressalta que é essencial a criação de programas de conservação que dêem mais atenção a população de insetos, que em comparação com mamíferos, répteis e aves, ficam esquecidos.

Segundo a literatura, muitos fatores contribuem para o declínio na população de insetos, contudo, o aumento das áreas destinadas à agricultura nos últimos anos, indicam que a utilização de agrotóxicos nos cultivos agrícolas teve um aumento e vem acarretando consideráveis prejuízos na saúde humana e no meio ambiente. Devemos nos questionar constantemente: Por que insetos estão desaparecendo?

Esse aumento é uma das principais causas da diminuição da diversidade nos ecossistemas, uma vez que o uso de agrotóxicos em cultivos agrícolas afetam de maneira direta a população de insetos. De acordo com o ICMBio a poluição pelo uso de agrotóxicos, a fragmentação e a diminuição da qualidade do habitat devido à atividade agropecuária são ameaças que mais afetam as espécies de invertebrados.

Os agrotóxicos são aplicados sobre as plantas a fim de eliminar a presença de insetos que estão em alta população e causam danos nos cultivos agrícolas. Contudo, as aplicações de agrotóxicos também entram em contato com os insetos benéficos presentes nos cultivos agrícolas, como as abelhas. Um exemplo a ser seguido refere-se ao governo alemão, que em fevereiro de 2021, apresentou a lei que restringe o uso de agrotóxicos perto de curso d’água e em áreas protegidas para conter o desaparecimento em massa dos insetos.

De acordo com Svenja Schulze, ministra do Meio Ambiente da Alemanha, a morte dos insetos deve ser contida e produtos químicos a base de glifosato não serão mais utilizados até 2023.

Se o menor elo da corrente se romper…

Algumas práticas são necessárias para diminuir os impactos causados pelos agrotóxicos no desaparecimento de insetos, como conservar a vegetação nativa, evitar a aplicação dos agrotóxicos durante o florescimento das culturas; realizar trabalhos de Educação Ambiental sobre a importância dos insetos para o Meio Ambiente.

Para os Biólogos e demais pesquisadores, a biodiversidade dos insetos está ameaçada em todo o mundo e a menos que mudemos a nossa relação com o Meio Ambiente, os insetos desaparecerão em algumas décadas e isso nos levará a um colapso ecológico, social e econômico sem precedentes. Devido a isso, precisamos nos relacionar melhor com a Natureza e compreender seus processos, o que permitirá a recuperação das populações de insetos e seus serviços essenciais para nosso Planeta!

Tatiana de Oliveira Ramos – Bióloga – Doutora em Entomologia Agrícola pela UNESP

Gleycon Silva – Gestor ambiental – Mestre em Ciências Ambientais pela UNIFAL

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Redação

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